Quando observamos os avanços da medicina, muitas vezes ficamos maravilhados ao ver como a tecnologia tem contribuído para os tratamentos. E isso não apenas para alcançar a cura de doenças outrora incuráveis, como para atenuar o sofrimento dos pacientes em situações que antes se mostravam extremamente dolorosas. No entanto, em um aspecto talvez tenhamos regredido. É que voltamos nossas atenções excessivamente para as técnicas a serem empregadas e, por vezes, nos esquecemos que o fim último disso tudo é um ser humano em concreto, que necessita das medidas terapêuticas, mas, mais que isso, deseja um alento, uma companhia solícita, pessoas serenas e, se possível alegres, que saibam conforta-los nesses momentos de dor e angústia.

E também os parentes e amigos do doente podem crescer muito com essa experiência. Trata-se de uma oportunidade imperdível de viver a caridade. Cuidar desinteressadamente de um doente, esforçando-se por contar-lhe coisas alegres, por fazer com que passe bons momentos nessa difícil situação, é, antes de mais nada, algo que inunda de muita paz e alegria a quem presta esse valioso serviço.
Além disso, com muito respeito e delicadeza, talvez será o momento de mostrar ao doente o verdadeiro sentido da vida. Quer se acredite ou não em outra vida após a morte, é inegável que estamos aqui de passagem. Aliás, uma passagem muito breve. Assim, sem forçar a nada e com profundo respeito pela liberdade das consciências, muitos desses doentes serão eternamente gratos a uma atenção espiritual que lhes forem prestadas nesses momentos.

Há poucos dias tive a imensa alegria de visitar uma grande amiga, que há dois meses se encontrava internada num hospital. Encontrei a D. Marina muito fraca e debilitada pela doença, mas com a paz e a serenidade que sempre marcaram a sua face. Não foram poucos os dissabores que a vida lhe reservou, mas a todos eles soube superar com a sua fé inabalável. Mesmo naquela situação debilitada, quando ela soube que um casal de amigos passava por uma dificuldade, arrancou forças de onde não tinha e disse: “eu vou ficar boa, vou sair daqui e então vou ajudá-los nisso de que estão precisando”. Não foi possível que ela realizasse esse desejo. Na última sexta-feira Deus a chamou à Sua casa. Mas ainda que aparentemente ela não tenha ajudado os amigos, muito mais que uma ajuda material, nesses últimos instantes da sua existência terrena nos deixou um magnífico exemplo: devemos encontrar no serviço desinteressado aos demais a razão de ser para a nossa própria vida!
Nenhum comentário:
Postar um comentário