segunda-feira, 23 de março de 2015

Todo mundo deve ir para a Universidade?

A revista britânica “The Economist” trouxe como manchete da sua última edição que o mundo está indo para a Universidade. Penso que a questão deve ser meditada pelos pais também sob o enfoque das expectativas que mantêm em relação aos filhos. É muito frequente que desde cedo sonhem com a sua formatura e que sejam bem-sucedidos profissionalmente. Muitas vezes chega-se a desejar que sigam determinada profissão e, é claro, nem cogitam a possibilidade de não concluírem um curso superior.
A busca do êxito profissional é muito acentuada atualmente. Por isso, muitos pais focam sua missão de educadores quase que exclusivamente nos resultados escolares dos filhos. Frequentemente acenam para eles com um mercado de trabalho competitivo, quase sempre acompanhados de uma ameaça: “se não estudar, não será ‘alguém’ na vida...”.
Mas será que todos são chamados a serem doutores ou pós-doutores em algo? Todos terão de cursar uma Universidade? Mais ainda: a felicidade dos nossos filhos depende exclusivamente do sucesso profissional e, por ora, dos resultados acadêmicos?
Penso que um dos maiores desafios das mães e dos pais é considerar que cada filho é um ser humano único e inigualável. Não há nenhum outro ser igual a ela ou a ele entre todos os demais habitantes do planeta. Não se trata de simplesmente não fazermos comparações entre irmãos. De fato, isso é extremamente ruim e contraproducente na educação. Mas mais que isso, temos de considerar que o que marca cada ser humano é a missão que lhe é confiada neste mundo.
Descobrir essa missão e segui-la cada dia da sua existência é a única coisa verdadeiramente importante na vida dos nossos filhos, e também na nossa. Para isso, no mais das vezes, será necessário estudar por vários anos. Em muitos casos, convém que cursem uma Universidade ou ainda que façam uma pós-graduação. Contudo, não é isso, por si só, que lhes assegurará a realização pessoal e, com ela, a felicidade.
Por isso, é muito importante que os pais contenham a ansiedade por resultados acadêmicos. Aliás, os pais são os únicos que deveriam reconhecer o esforço, muito mais que o resultado alcançado. É que a escola, os amigos, os parentes, todos enaltecem a nota dez, a aprovação do vestibular ou mesmo a vitória numa competição. Mas, em geral, é necessário um coração de mãe e de pai para dar um abraço e um beijo naquela filha ou naquele filho que, apesar de muito esforço, volta para a casa com um seis, um cinco ou menos ainda...
Nesse mundo competitivo a família tem um papel fundamental de defesa dos mais fracos. É nela que se há de aprender, com gestos bem concretos de carinho e compreensão, que um ser humano não vale pelo que produz nem pelos conhecimentos adquiridos, mas por aquilo que é essencialmente: filha ou filho de Deus.
Aliás, aqueles que têm vocação profissional para serem médicos, engenheiros, advogados, filósofos, escritores etc., deveriam aprender antes, na família, a serem mulheres e homens de verdade. Pessoas comprometidas com o próximo, alegres e solidárias. Mais ainda, que encaram a profissão como uma parte de uma missão maior a que são chamadas a desempenhar no mundo que os cerca.
Lembro-me agora de algo que aconteceu há alguns anos. Um dos meus filhos aguardava toda noite na janela do apartamento a passagem dos lixeiros. Esses dobravam a esquina com grande algazarra correndo atrás do caminhão. Recolhiam os sacos apressadamente e, antes de partir, acenavam para o garoto enquanto gritavam: “tchau nenê!”. Movido pela alegria e vibração profissional deles, esse menino dizia que, quando crescesse, queria ser lixeiro. Pois bem, que resposta ou que conselhos daríamos a esse rapaz se decidisse levar a sério o propósito de exercer esse trabalho?


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