Conforme Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen),
Esses dados revelam uma tendência que está se instalando entre nós de
resolver os problemas de segurança quase que exclusivamente com a segregação de
pessoas, pouco se fazendo para atacar a raiz do problema. Ou seja, como há indivíduos
que perturbam a paz dos demais com os seus delitos, a solução superficial
encontrada é simplesmente afastar tais indivíduos do convívio social, de modo
que, ao menos enquanto estiverem presas, não voltarão a incomodar.
No lado oposto disso, também podemos observar a enorme proliferação de
condomínios de casas e apartamentos cercados por muros, cerca elétrica, câmeras
de segurança, portarias com um rigor quase militar no controle de acesso etc.,
tudo para vender uma sensação de estar seguro e que, naquele reduto, todos
podem ficar tranquilos. Embora de modo bem diverso, impera aqui a mesma lógica segregacionista,
que leva a se fechar e viver isolado como instrumento de defesa.
E isso não é mais privilégio das pessoas e famílias mais abastadas. Há
um crescente número condomínios de casas que disputam um espaço diminuto entre
si, de modo a permitir que os custos dessa parafernália de segurança possam
caber no bolso de cada um. E como é quase apenas isso que os une, a paz tão
almejada não tardará em ser perturbada por brigas enormes e constantes, muitas
delas motivadas por ninharias, que marcam as pautas das intermináveis e
enfadonhas reuniões de condomínio...
O problema está em que cada vez mais se vê no outro, no vizinho, por
exemplo, alguém que devemos no máximo suportar. Já que não nos é possível
comprar sozinhos todo um aparato de conforto e segurança, esse sujeito que mora
ao lado é apenas alguém com quem divido as contas dessa comodidade.
Tratam-se, porém, de soluções que buscam mitigar os efeitos, mas não
atacam a causa do problema. E a sua raiz mais profunda está no individualismo
exacerbado que nos move a procurar no outro apenas a satisfação de interesses,
no mais das vezes egoístas.
Nesse contexto está a desagregação da família. É que um relacionamento
autenticamente conjugal pressupõe o sacrifício para fazer o outro feliz, construindo
no amor e no compromisso a vida familiar. Se, porém, cada um busca no outro apenas
uma fonte de satisfação sexual, afetiva etc., quando não mais se consegue sugar
nela (ou nele) tais utilidades, simplesmente se parte para outros
relacionamentos, deixando famílias esfaceladas e, não raras vezes, filhos
desorientados e perdidos.
Solução? “A educação” – talvez muitos dirão. E penso que é isso mesmo.
Não basta, porém, ensinar matemática, língua portuguesa ou história para curar
essa doença social, até porque muitos individualistas que perambulam entre nós
são eruditos e doutores nessas e noutras disciplinas acadêmicas. É necessário
formar, a partir da família e também na escola, essa como um prolongamento
daquela, pessoas peritas em humanidade, que conheçam a fundo o coração da
mulher e do homem, suas carências, seus valores, seus anseios, enfim, que
encontrem um sentido profundo para as suas vidas.
Esses “doutores”, pós-graduados no amor vivenciado por seus pais no seio
de uma família, saberão encontrar e atacar as raízes da criminalidade, quase
sempre relacionadas com carências, não apenas econômicas, mas, sobretudo,
afetivas e espirituais. E também não precisarão “comprar” a um elevado custo
uma sensação de segurança. Simplesmente saberão encontrá-la na verdade, por
saberem de onde vieram e para onde irão pelos atribulados caminhos desta vida.