Tem sido freqüentes, sobretudo após o lançamento do
livro e do filme O Código da Vinci,
reportagens negativas sobre a Igreja Católica e, em especial, de uma
instituição dela que o Opus Dei.
Assistindo a um programa de auditório em que a tônica
era o sensacionalismo, uma das acusações lançadas é que o Opus Dei faz em seus
membros uma verdadeira “lavagem cerebral”, motivo pelo qual eles seriam tão
fanáticos. Tenho de admitir que a afirmação me deixou intrigado. Há tempos que
participo dos meios de formação dessa instituição, de modo que me pus a pensar:
“será que esse pessoal está fazendo ‘lavagem cerebral’ comigo e nem percebi?”.
Nem foi preciso pensar muito para concluir que de
fato fazem lavagem cerebral mesmo. Numa das primeiras palestras que assisti,
falava-se do matrimônio. E a pessoa dizia que o homem deve se esforçar por amar
cada vez mais a sua esposa, que deve se esmerar em tratá-la com delicadeza,
ajudando nos afazeres da casa. E depois disse ainda que o Fundador do Opus Dei
costumava dizer aos maridos: “a tua esposa é a tua porta de entrada no céu”. E
explicou que com isso se queria dizer que, para o homem casado, a felicidade consiste
em doar-se cada vez mais à esposa. E essa pessoa que dava essa palestra contou
também que São Josemaría, depois se dirigia às mulheres e dizia o mesmo: “o teu
marido é a tua porta de entrada no céu”.
Acontece que esse mesmo tema (amar cada vez mais a
esposa) se repete nos meios de formação, com algumas variações, mas com a mesma
mensagem de fundo. Deve ser lavagem cerebral mesmo!
Outras vezes, ouvi dizerem sobre a educação dos
filhos. E diziam que eles são uma grande dádiva que Deus nos concede, mas, ao
mesmo tempo, nos confia a que lhes eduquemos com responsabilidade. Dizem que
assim como Deus conta conosco para dar a vida, também conta para que os
formemos para que sejam um dia responsáveis e felizes. E, para que isso fique
bem gravado nesse processo de ‘lavagem cerebral’, periodicamente o mesmo tema é
tratado de novo, com outras palavras, mas com a mesma idéia central.
E quanto ao trabalho. Aqui eles pegam mais pesado na
‘lavagem cerebral’. Toda vez se fala que o trabalho, seja ele qual for, deve
ser bem feito, bem acabado, por amor ao próximo, que dele depende, mas por amor
a Deus, a quem se deve servir. E falam também que nenhum trabalho é, em si,
mais ou menos digno que outros, que o que torna mais digna qualquer atividade é
o amor com que se a faz. E depois repetem, repetem, até que, com o tempo, a
gente passa a achar que isso é assim mesmo, ou seja, que se deve trabalhar bem,
com amor, mesmo nos trabalhos que, humanamente, pareçam mais insignificantes.
E vejo agora que eles são tão perspicazes nesse
processo de lavagem cerebral que, com o tempo, a pessoa vai ficando como que
ludibriada, pois, a vida em família cresce muito em qualidade. Com relação aos
filhos, ainda que muito se sofra, são palpáveis os progressos que se vêem de
nossa dedicação a eles. E no trabalho profissional então, passa o tempo e a
gente começa a achar que de fato os trabalhos mais sem importância, aqueles que
ninguém vai notar, também devem ser bem feitos, e já não se consegue fazer
trabalhos marretados sem que a consciência nos acuse.
Depois de algum tempo escrevendo nesta coluna, caro
leitor, percebi que uma coisa é essencial em quem se aventura a escrever ao
público: a lealdade, que nos faz escrever somente aquilo que se pensa, e não
exatamente o que seria gostaria de ler. E com essa total franqueza é que afirmo
que é essa “lavagem cerebral” que tenho notado nos meios de formação do Opus
Dei nestes anos todos.
Ah! Ia me esquecendo. Tem outra coisa que eles ficam
martelando sempre também: que é importante termos bons e muitos amigos; que
temos de nos dedicar com zelo aos nossos amigos; que se há de ter um radical e
inviolável respeito pela liberdade de cada um, sobretudo em matéria de fé e que
Deus conta conosco para sermos, nos ambientes em que vivemos, semeadores de paz
e alegria.
Naquele programa de auditório, foi dito também que o
Opus Dei é uma instituição secreta. Quanto a isso, se eu souber de mais alguma
coisa, prometo que vos contarei em breve.
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