Quem conseguiria conter
as lágrimas ao contemplar o beijo doloroso que a mãe do João Hélio deu na mãe
da Alana Ezequiel, após a Missa de sétimo dia, celebrada no último dia 12, na
Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro? Assim como a maternidade é, em muitos
aspectos, incompreensível para nós, homens, penso que a dor de uma mãe também
não pode ser compreendida em toda a sua profundidade por quem não sabe amar com
um coração de mãe.
E nós, que não passamos
por isso, nem experimentamos tão profundo sofrimento, ficamos como que
perdidos, perplexos e atemorizados. Tememos que suceda o mesmo conosco, e não
desejamos isso, ao mesmo tempo em que não sabemos bem ao certo o que fazer para
consolar essas e muitas outras mães que sofrem, e nem como lutar para que essas
brutalidades não se repitam.
Talvez se voltarmos
nossa atenção para um acontecimento que marca a essência do cristianismo,
possamos vislumbrar uma luz e um alento nesses tempos de penumbra e desolação.
Todos já ouvimos de uma forma ou de outra, o relato da morte de Cristo na Cruz.
Talvez nos passe despercebido, porém, que ao despregá-Lo do madeiro,
deixaram-No por uns instantes nos braços de sua Mãe, que também chora.
Derrama-se em dores por essa morte brutal e violenta de Seu Filho, que somente
passou fazendo o bem.
Essa Mãe é capaz de
entender em toda a profundidade e extensão a dor da mãe do João Hélio e da mãe
da Alana Ezequiel, porque sentiu em sua alma a mesma dor.
Mas nós, que vemos de
longe a mãe do João, a mãe da Alana e a Mãe de Jesus, ainda continuamos como
que sem entender e sem saber o que fazer. Mas é que não olhamos de verdade e a
fundo para elas.
A Mãe de Cristo,
passados aqueles momentos de dor, uniu-se aos seus discípulos, aqueles que em
breve inundariam o mundo com uma doutrina completamente nova. Esse pessoal
sairia pregando aos quatro cantos do mundo que “não há maior prova de amor que
aquele que dá a vida por seus amigos”, que “quem quiser perder a sua vida vai
ganhá-la, mas quem quiser salvá-la, vai perdê-la”, vão dizer ainda que “quem
não tome a sua cruz de cada dia e O segue não é digno de ser discípulo do
Mestre”. E esses poucos malucos, apoiados por aquela Mãe, haveriam impregnar o
mundo com a sua doutrina, com uma doutrina simples, compreensível por
pescadores e marceneiros, mas profundamente bela, capaz de serenar com paz e
alegria os corações que a acolheram.
E a mãe do João Hélio,
ora, de novo uma mãe!, vinte séculos após, vem nos dar lição semelhante.
Poderia ficar em casa, chorando, tomando anti-depressivos, esperando um
legítimo consolo dos seus amigos e familiares. Não faria nada de mau se agisse
assim. Porém, não, não foi assim. Saiu de sua casa e do aconchego dos seus e
foi consolar outra mãe, que também chora e sofre.
Temos de aprender a
lição das mães! Se o momento é mau, se as notícias são ruins e desalentadoras,
façamos como elas. Não fiquemos encerrados em nosso mundinho. Trata-se de
afogar o mal em abundância de bem. Os jovens e crianças de nosso tempo anseiam
que lhes mostremos um sentido para suas vidas. Eles não pegarão em armas, não
usarão drogas, não precisaram do ruído das festas raves para abafar o anseio irreprimível de felicidade e eternidade
que trazem dentro de si, se nós os mostrarmos, mais com o exemplo do que com
palavras, que a vida vale a pena.
E o sentido para a vida
nos dão essas mães, sempre dispostas a esquecerem de si para fazer mais bela e
amável a vida aos demais.
Termino revelando um
segredo, caro leitor, um segredo que deve ser espalhado aos quatro cantos: o
único problema que marca o nosso tempo é a grande carência de pessoas que
saibam amar como ama um coração de mãe.
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