Uma característica essencial do ser humano é a
necessidade de se relacionar com os demais, tanto que já se disse que o homem é
um animal social. Na era da informática, porém, tem-se notado certo
empobrecimento das relações humanas, sobretudo entre os mais jovens, que
facilmente substituem o convívio com os amigos e familiares pelo computador.
É comum as crianças e os adolescentes terem no videogame e nos jogos de computador a
quase que única diversão. O problema disse é que se diverte, se frustra e se
vence sozinho, sem precisar de ninguém. Para um jogo de futebol, basquete,
vôlei e outros esportes, ao contrário, são necessárias duas ou mais pessoas. E
para que ocorra a partida, cada jogador deve estar motivado, querendo participar,
e então se discute, se luta, se vence, enfim, relacionam-se. E isso é
importante para ir amoldando a personalidade. A máquina, ao contrário, é incansavelmente
submissa ao jogador que a controla. E isso acaba por criar pessoas centradas em
si, com dificuldades de relacionamento, em uma palavra, tremendos egoístas,
incapazes de pensar nos demais.
E as conseqüências são piores ainda se os jogos forem
de violência. É que então a morte passa a ser apenas um “game over”, algo que
se apaga e se supera apenas acionando o “start” novamente. E, dependendo do
tempo em que se dedica a participar desses jogos, é tristemente corriqueiro
nessas pessoas uma total indiferença à sorte dos demais. Afinal, quem ou o que
passa a ser o outro? Nada, ninguém, algo semelhante aos CD´s que se inserem no equipamento para mudar de jogo quando do
anterior não mais se tira nenhuma satisfação.
E penso que mesmo os bons recursos criados para se
facilitar a comunicação, como o MSN, podem
vir a servir para deteriorar as relações humanas. É que, se por um lado
encurtam distâncias, permitem conversas mais demoradas e freqüentes entre
pessoas que estão longe entre si, por outro, quando se busca falar com os
amigos apenas dessa forma, quando é possível o diálogo na presença um do outro,
tira-se a cor e o sabor de uma conversa em que se olha no olho, se sente o
calor de um abraço, o peso de uma confidência, o sabor de um sorriso.
Tempos atrás, era comum se fabricar o próprio
brinquedo, como uma pipa, por exemplo, em que se havia de adquirir o material,
cortar, colar, ajustar até que ficasse pronto. E depois, colocá-la e mantê-la
no ar exigia técnica, paciência, perspicácia. E nessa empreitada, não era comum
lançar-se só, mas com outros amigos. Tudo isso implicava em relacionar-se, em
vencer, em frustrar-se, pois, se calhava de enroscar em uma árvore, todo o
trabalho se perdia, e então havia de se começar tudo de novo, como acontece na
vida real de cada um.
Penso que não se trata de sustentar um saudosismo
tristonho que afirma que as coisas modernas e, dentre elas a informática, são
ruins. Não, há coisas muito boas e que muito facilitam a vida das pessoas. Não
se pode permitir, porém, que isso que deveria ser um auxílio, transforme-se em
algo que escraviza o ser humano, que o impede de manter um sadio relacionamento
com os demais.
Conheço uma família em que, após o jantar, pais e
filhos costumam se reunir por alguns minutos, no que chamam de tertúlia. E
esses encontros nunca um é igual ao outro. Por vezes, cada qual conta como foi
o dia. Noutros, seguem contando piadas e outros assuntos alegres. Em outros
ainda, improvisa-se uma peça de teatro ou uma apresentação de mágica. O
importante é passar bons momentos juntos e, com isso, constrói-se a alegria do
ambiente familiar, em que cada um se sente bem e feliz simplesmente por estar
em casa.
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