Recentemente nos chegaram notícias de acidentes
lamentáveis que causam perplexidade e uma justa indignação em muitas pessoas.
Ora é uma criança que é atingida brutalmente por um jet ski na praia, ora são inúmeras pessoas que perdem as vidas em
acidentes automobilísticos causados muitas vezes por imprudência. Nesse
cenário, talvez nos perguntemos: são fatalidades inevitáveis, ou, ao contrário,
haveria ações que poderíamos ser tomadas de modo a evitar ou ao menos diminuir
esses infortúnios?
Uma característica muito acentuada dos jovens e
adolescentes do nosso tempo é a busca incessante e quase que exclusiva da
diversão. São os inúmeros entretenimentos eletrônicos, são os esportes ditos
radicais, são, ainda, as horas diante de programas de televisão. Em muitas
dessas atividades não há relacionamento humano nenhum (joga-se contra a
máquina), ou, quando há, o outro aparece muitas vezes apenas como um elemento
necessário para fazer possível a própria diversão.
As outras atividades que se devem desempenhar, como o
estudo, convívio familiar, ou mesmo o relacionamento com os amigos, são
consideradas como uma espécie de “mal necessário”, momentos que se há de
suportar à espera daqueles em que verdadeiramente se “vive”: a diversão.
Essa cultura egocêntrica, no entanto, talvez seja a
grande causa não apenas das catástrofes que mencionamos, como também do
empobrecimento das relações genuinamente humanas. Com efeito, antes de o jet ski atingir uma criança que brincava
na praia, alguém fez uso desse equipamento para sua própria diversão, sem
seguir as regras de segurança e, o que é pior, sem se preocupar com a vida dos
demais. E exemplos de atitudes semelhantes poderiam ser multiplicadas. Quantas
vezes não vemos pessoas no trânsito se portando como potenciais homicidas. E
isso uma vez e outra até que – a estatística explica – os acidentes acontecem.
Muitas vezes, por detrás desses infortúnios, há reiteradas ações centradas em
si próprios, em total desrespeito à vida e à pessoa do próximo.
Para reverter esse quadro é fundamental e é urgente
que sejam tomadas ações educativas concretas e eficientes. Não é hora de
saudosismo do tipo “antigamente os filhos começavam a trabalhar mais cedo e com
isso adquiriam responsabilidade”. Podem ser verdadeiras essas afirmações, mas
os nossos jovens e adolescentes nasceram e estão inseridos no mundo atual, com
todas as suas qualidades e defeitos, e é precisamente nesse contexto que
devemos educá-los para que sejam homens e mulheres responsáveis e felizes.
Os pais não conseguirão desempenhar sozinhos essa
tarefa. É fundamental uma parceria com a escola, de modo a que essa seja, de
certo modo, um prolongamento da educação que é dada em casa. Também se mostra
necessário especial atenção para a indústria do entretenimento. Os pais e as
instituições de ensino devem promover atividades que facilitem o convívio
saudável e o diálogo, fomentando desde cedo o sentido de solidariedade que os mova
a se sacrificar pelo demais.
Conheço pessoas e instituições que estimulam jovens a
visitar regularmente famílias carentes de bairros pobres da cidade. Nessas
visitas, costuma-se levar bons presentes, talvez algo que em outras ocasiões
aquelas pessoas jamais poderiam obter. Mas, mais que levar algo, dão-se a si
próprios, permanecendo um tempo com eles e oferecendo a sua amizade. Ações como
essa e muitas outras, que somente um amor inventivo saberá descobrir, servem
para retirar da vista essa crosta formada por nossos egoísmos, que nos impede
de ter um olhar atento às necessidades do outro.
Para quem se interessa por esses e outros desafios da
educação em nosso tempo, convido a participar do II Seminário Educar
Participando, que acontecerá no Auditório - Centro de Convenções da UNICAMP, no
próximo sábado, dia 10 de março, às 9:00 horas. Maiores informações e
inscrições podem ser obtidas no site http://www.educarparticipando.com.br.
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