
Cada conflito tem suas peculiaridades e as causas costumam ser complexas. Porém, há dois aspectos de fundamental importância que, se fossem bem cuidados, evitariam muitas brigas, ou ao menos levariam as pessoas a se reconciliar rapidamente.
O primeiro consiste no “excesso de subjetivismo”, muitas vezes aguçado pela memória ou pela imaginação distorcidas. Tomemos um exemplo. Um marido não gosta que a esposa profira determinada frase em relação a ele. Certa vez, há dez anos atrás, notou que a mãe da esposa havia dito algo semelhante ao seu marido (sogro dele). Num determinado dia, ao falarem ao telefone, a esposa volta a dizer precisamente aquela frase. No caminho de volta a casa ele vem ruminando consigo: “ela está ficando igualzinha à mãe dela, com certeza ela só diz aquilo para me provocar...”. Quando esse marido chegar à casa, convencido de que esses juízos que fazia sobre a esposa são verdades absolutas, por certo as coisas não correrão bem...
Há pessoas absolutamente convencidas de possuírem pleno conhecimento de tudo. E assim, senhores da verdade e com a memória e a imaginação soltas, fazem juízos inamovíveis em relação aos outros que acabam sendo o estopim de muitos conflitos.
Mas há um segundo ponto, que é consequência do primeiro, e que é a causa mais de fundo do surgimento de conflitos e do endurecimento de coração que leva a manter o rancor por muito tempo, às vezes anos ou décadas. Refiro-me à incapacidade de se colocar no lugar do outro.
Analisemos o diálogo de um rapaz com o seu amigo. Aquele havia tido um sério desentendimento com o seu irmão e então desabafava: “Eu não aceito o que ele fez comigo! Nem perguntou nada e foi dizendo que eu cuidava do meu pai por interesse. Ele e aquela folgada da minha cunhada só visitam meu pai no domingo para filar o almoço. E agora vem me dizer pra prestar contas do dinheiro que saquei da aposentadoria do pai, como se eu fosse um ladrão?!... Não vou prestar contas coisíssima nenhuma...”.

Em seguida, o amigo disse: “Veja, cara, são duas coisas distintas. Se o teu irmão não está sendo um bom filho, você deve dizer isso a ele e alertar de que é necessário cuidar melhor do pai nessa situação para o próprio bem dele. Agora, quanto ao dinheiro, coloque-se no lugar dele. Se fosse ele quem administrasse o patrimônio, você não gostaria de que prestasse contas?”.
O rapaz ficou pensativo, principalmente porque não esperava ouvir isso. Havia contado a ele apenas esperando a sua aprovação e assim ter uma justificativa a mais para manter o conflito com o irmão. Porém, os bons amigos são aqueles que sabem dizer a verdade para ajudar, da forma e no momento certos, ainda que não seja precisamente o que o outro deseja ouvir.

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