Uma matéria publicada no Correio Popular, na edição do dia 19
de setembro deste ano, aponta que “o álcool é um ingrediente cada vez mais
comum na rotina de jovens e adolescentes com idades entre 12 e 17 anos”. Isso
me fez lembrar um comentário sobre os hábitos dos jovens da década de 60 de uma
pacata cidade do interior paulista: “Eles bebiam feitos uns loucos e, como é de
se supor, aprontavam as mais inusitadas estripulias. No dia seguinte, passada a
fogueira, reuniam-se na praça para conversar e se divertiam relembrando as
peripécias da véspera”.
O problema não é recente. O hábito de se embriagar aos finais
de semana ou em determinadas ocasiões é socialmente aceitável há longa data
entre nós. Por certo que os saudosistas dirão: “Sim, mas antigamente não havia
a proliferação das drogas e outras coisas terríveis que vemos na juventude de
hoje”. E talvez tenham razão. Mas, por outro lado, será a embriaguez, ainda que
esporádica, tão inocente assim?
A mesma matéria que mencionamos acima traz o relato de profissionais
da área de saúde que “afirmam que a bebida pode ter reflexos nocivos ao
organismo de um ser humano, principalmente em idade de crescimento. Além disso,
“as bebidas alcoólicas são a porta de entrada mais fácil para as drogas ilícitas,
como maconha, crack e cocaína”. Sendo assim, como combater tão grave problema?
Como
toda questão complexa, temos de ir à raiz, sem o que ficaremos apenas com meros
paliativos. Como exemplo disso temos o aumento da punição para os proprietários
de bares e restaurantes que vendam bebida alcoólica para menores, ou permitam o
consumo por eles em seus estabelecimentos. A medida é elogiável, mas não
resolve.
Uma vez ouvi o seguinte comentário de um adolescente sobre o
seu colega de classe: “Puxa, ele nem precisa beber para ser tão divertido
assim! Consegue conversar, ser simpático e atraente com as meninas...”. Esse
mesmo jovem se intitulava como tímido, de modo que via na bebida um meio para
se libertar da timidez.
Convém
que não se encare a timidez como algo irreversível ou uma característica
imutável da pessoa. Trata-se de uma defesa desenvolvida por quem talvez tenha
uma baixa auto-estima e receia se expor para que os outros não criem um mau
conceito de si próprio. Cabe aos pais e professores fomentar uma saudável
auto-estima – e para isso não é necessário criar um falso conceito sobre si
próprio – que anime os filhos e alunos a se portarem com naturalidade em
qualquer ambiente. O objetivo não será expor desnecessariamente a intimidade,
mas agir com segurança. E isso somente se consegue com êxito quando se toma
consciência da imensa dignidade que é inata a cada ser humano.
Talvez outra causa seja o desejo de grandes aventuras que
marca os jovens e adolescentes. Temos de ajudá-los a ver que não precisam do
álcool para isso. A vida toda pode ser uma grande aventura, conquanto que
estejamos abertos a lutar por grandes ideais que valham a pena. Além disso, com
um pouco de sacrifício podemos proporcionar-lhes passeios verdadeiramente
estimulantes, como acampamentos, escaladas a montanhas, viagens de bicicleta
etc. São atividades que exigem esforços e, ainda que tenham um certo risco,
proporcionam momentos inesquecíveis, que valem ser a pena ser recordados no dia
seguinte, numa roda de amigos, e por toda a vida.
Há
tempos estive numa fazenda de tratamento de dependentes químicos. Era um dia
festivo, pois se comemorava a recuperação de um rapaz, que voltaria ao convívio
social. Enquanto almoçávamos, o responsável pelo trabalho, que também era um
ex-dependente, fez uma brincadeira: “ontem eu bebi todas! Guaraná, coca-cola,
suco de laranja e depois cheguei a casa chapado de amor a Deus”. Os jovens que
o rodeavam na mesa, acostumados com esse linguajar e nutridos de esperança,
soltavam grandes gargalhadas. No brilho de seus olhos ecoava de novo a alegria.
“Como é boa a felicidade que se alimenta numa vida simples e sóbria!”, talvez
pensassem. De fato, somente quem é senhor de si mesmo pode-se doar livremente
aos outros. E a mensagem estampada na parede do local bem nos serve de
conclusão: “Felicidade e sobriedade: aprecie sem moderação”.