Muito se trabalhou pela
erradicação do trabalho infantil em nosso País. De fato, há tristes páginas da
nossa história que registram a situação de crianças e adolescentes
prematuramente privadas de uma infância saudável ou mesmo da oportunidade de
estudar para se dedicarem, muitas horas por dia, a trabalhos incompatíveis com
sua idade e condição.
Precisamente por isso se buscaram
inovações legislativas tendentes a coibir, com rigor, a exploração do trabalho
infanto-juvenil. No entanto, vivenciamos hoje uma situação inversa, que bem
pode ter consequências piores que aquelas que se pretendeu evitar.
Muitos jovens do nosso tempo,
independentemente da classe social, perdem inúmeras horas do dia numa
ociosidade que tende a minar valores imprescindíveis para a formação de uma
personalidade equilibrada e saudável. E acredito que há dois ingredientes que
agravam sobremaneira essa situação: a grade escolar adotada entre nós e a falsa
crença de que as crianças e adolescentes não devem desempenhar nenhum tipo de
trabalho.
Ao contrário de uma tendência quase
que universal, que tem implementado o período integral de ensino, nosso País
ainda insiste num sistema de “meio período”, tanto na rede pública como
privada. E a consequência é que muitos pais veem-se diante da enorme
dificuldade de manter ocupados os filhos por longas horas do dia.
E há uns ingredientes que agravam
a triste saga dos pais. O primeiro é a ideia falsa, mas ao mesmo tempo muito
difundida, de que os filhos não pode desempenhar nenhum tipo de trabalho. Com
isso, poupam-nos de atividades que bem poderiam desempenhar.
Mas não é só. Muitos pais, atemorizados
com a violência – real ou supervalorizada pela mídia –, poupam os filhos do
mínimo esforço em tomar transportes públicos, por exemplo. E então vemos as
mães aflitas e atribuladas, muitas horas por dia, levando na aula de inglês, na
academia etc.
Agrava esse cenário a infindáveis
horas em que permanecem com os amigos em conversas vazias e ociosas, bem como na
INTERNET, na TV e nos jogos eletrônicos.
Penso que a gravidade do problema
está a exigir ações corajosas e urgentes.
A primeira é repensar o papel da
escola, bem como a jornada escolar. É impensável que, num futuro próximo, nos
nossos filhos dediquem tão poucas horas por dia aos estudos. Há que se
implementar a grade curricular incluindo atividades esportivas e culturais
(literatura, pinturas, artes em geral) que não apenas preencham o tempo, mas
que propiciem momentos capazes a contribuir para a formação saudável das suas
personalidades.
Além disso, o próprio ambiente
escolar pode e deve propiciar e fomentar o surgimento de iniciativas de
voluntariado, que os movam a se abrir às necessidades dos outros e se lançarem
a isso com toda a força de um coração juvenil.
E, também, os pais devem estimular
a que os filhos auxiliem ativamente nas tarefas da casa. Desafio o leitor a
encontrar onde está escrito no Estatuto da Criança e do Adolescente que eles
não podem arrumar camas, guardar roupas, brinquedos e demais pertences etc.
Onde está dito que não podem ter encargos em casa, como lavar louça, aparar a
grama, ajudar os pais em pequenos consertos?
O trabalho enobrece e dignifica o
homem. Canta poeticamente o Gonzaguinha:
E sem o seu trabalho
O homem não tem honra
E sem a sua honra
Se morre, se mata...
Não dá prá ser feliz
Não dá prá ser feliz...
De fato, sem um trabalho não dá
para ser feliz. Como então, preparamos nossos filhos e alunos para algo que
lhes é tão fundamental para a sua felicidade? Dizem que a nadar se aprende
nadando. Ora, com igual ou maior razão, trabalhar se aprende trabalhando, desde
cedo, com atividades apropriadas a cada idade.
Independentemente da religião de
cada um, é um dado histórico inquestionável que Jesus passou trinta anos da sua
vida trabalhando, exercendo uma atividade comum. E mesmo nos anos da sua vida
pública, dedicou-se a um incansável trabalho de pregar, de ensinar, de
servir... Não seria o caso de imitarmos tão esplêndido exemplo na educação dos
nossos filhos e alunos?
Nenhum comentário:
Postar um comentário