Atualmente
as pessoas buscam a segurança em suas vidas principalmente no conhecimento
humano e nas inovações tecnológicas. Quando se procura um médico, por exemplo,
há quem investigue atentamente a sua formação acadêmica. E isso não ocorre
apenas na medicina. Também ao se escolher um colégio ou um berçário, também se
priorizam as medidas que reduzam ao mínimo os riscos de danos à saúde. E os
exemplos poderiam multiplicar-se quanto aos instrumentos avançados, nos quais
se deposita a esperança de prolongar ao máximo a vida, com saúde, de modo a
poder desfrutar pelo maior tempo possível e sem esforço do que o mundo oferece.
Nesse
contexto, a prática mantida por algumas pessoas de rezar na busca da solução
dos seus problemas ou mesmo pedindo ajuda para alcançar as suas realizações,
muitas vezes, soa como algo incompreensível à mulher e ao homem moderno. É que
– pensa-se – o melhor a fazer é procurar os recursos e meios adequados, em vez
de ficar “esperando que as coisas caiam do céu”. Ou então se vê a oração como a
antessala do desespero total. Algo para acalmar ou simplesmente matar o tempo
quando os recursos tecnológicos – os únicos verdadeiramente confiáveis – já não
podem fazer nada.
E
então surge o velho confronto entre ciência e fé ou entre Deus e a tecnologia.
Mas será que são coisas necessariamente antagônicas e contrapostas?
Penso
que o antagonismo é apenas aparente. Decorre de uma visão distorcida da fé e,
também, de um conceito talvez equivocado e um tanto redutivo do que é o ser
humano na sua essência.
A
tecnologia, fruto da inteligência e do engenho criativo humano, quase sempre é
algo bom, que proporciona meios para que as pessoas vivam mais e melhor.
Permite, por exemplo, que se envie esse artigo do outro lado do mundo e, em
poucos minutos, possa ser inserido na edição do jornal. Mas nem toda inovação tecnológica
promove a dignidade humana. Basta citar, como exemplos, as armas de destruição
em massa e as pesquisas com seres humanos vivos, inclusive os embriões,
tratados como objetos descartáveis.
A
tecnologia não exclui a fé. Estão em âmbitos diferentes, mas numa mesma
direção. Ainda que a técnica alcance avanços fantásticos, o homem nunca terá um
controle absoluto da sua vida. Estará sempre sujeito a acontecimentos que estão
fora do seu controle. É o celular ou a INTERNET que não funcionam quando mais
precisávamos, ou, mais dramático ainda, é a doença que aparece de repente e
para a qual a medicina ainda não encontrou a solução...
Mas
a fé não começa somente quando termina a tecnologia. Quanto é verdadeira, há de
influenciar todos os aspectos da vida humana. Trata-se de reconhecer, com
humildade, a condição de criatura e que, portanto, não tem domínio sobre o
universo que nos envolve. Apesar disso, em sendo criatura – e aqui tocamos no centro
maravilhoso do cristianismo – a mulher e o homem não são simples seres
relegados ao acaso por um deus longínquo e indiferente. Foram elevados à
condição de filhos muito amados de um Deus cuja melhor definição é Amor.
O
raciocínio do ateu indiferente, ainda que rebuscado de uma filosofia muito bem
engendrada, é o seguinte: “já que não sou deus – e isso é uma constatação
evidente – por não suportar que haja alguém acima de mim, prefiro pensar que
ele não existe”. O cristão autêntico, diante da mesma evidência do ateu, diz:
“Não sou Deus, mas sou seu filho muito amado”.
Assim,
não se trata de esperar que as coisas caiam do céu, nem de confiar
exclusivamente nos recursos humanos. O cristão verdadeiro busca todos os
recursos de que dispõe para resolver os seus problemas e alcançar os seus
objetivos. E, depois, reza como se não houvesse outra coisa a fazer. Fé e
tecnologia, oração e ação, são como que dois trilhos por onde deve seguir a
vida humana. Ambos devem estar muito bem cuidados e alinhados para que não se
descarrile e então se alcancem os desígnios eternos onde se encontra a
felicidade, enquanto se caminha e no fim desse caminhar.
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