
Talvez cause perplexidade – não fosse a nossa antiga tradição cristã – contemplar um ministro religioso (sacerdote) trazendo consigo um ostensório contendo uma fração de Pão que os fiéis adoram como sendo o seu próprio Deus. De fato, trata-se de um mistério tão sublime que supera toda a capacidade humana de entendimento.
Penso que a partir dessa manifestação popular de religiosidade poderíamos meditar um pouco sobre o ensino religioso e, também, sobre o direito de manifestar publicamente a fé.
Há quem sustente que os pais não deveriam instruir os filhos com os ensinamentos da fé que professam. Mais ainda, chega a se sustentar que isso atenta contra a liberdade deles. Nesse sentido, seria uma violência, por exemplo, que pais espíritas falassem de reencarnação aos filhos pequenos, que evangélicos lessem a bíblia às crianças, ou ainda que os pais muçulmanos os ensinassem a louvar o seu Deus.

E se isso ocorre entre amigos, com maior razão deveria ocorrer numa família, entre pais e filhos. Nesse sentido, um pai e uma mãe que não se ocupam de comunicar aos filhos a sua fé é porque não estão suficientemente convencidos dela. É claro que instruir e ensinar é muito diferente de impor. A imposição, sim, violenta a liberdade num assunto em que somente se poderia agir livremente.
Talvez aqui esteja o aspecto mais cruel e pernicioso do relativismo. Isso porque quando se trata a existência de Deus e o sentido da vida como conceitos relativos, aniquila-se nos mais jovens por completo a esperança. Com efeito, se tudo é relativo, não haverá então verdades e ideais absolutos pelos quais valha a pena entregar suas vidas por completo. E isso é a razão mais profunda de eles andarem tão desorientados e perdidos em nosso tempo.
Certa vez, numa Missa, uma mãe trazia um filho pequeno ao colo na fila da comunhão. Ao receber a Eucaristia, o garotinho perguntou: “Mamãe, o que é isso”. A mãe, tentando guardar o recolhimento, respondeu: “É Jesus, filho”. “Então por que você comeu?”, indagou ele assustado. A mãe não conteve um terno sorriso enquanto o abraçava com imenso carinho. E muitos exemplos como esse poderíamos encontrar na vivência familiar de pessoas de outras religiões. São momentos entranháveis de uma fé vivida com simplicidade e alegria.
E essa fé não pode e não deve permanecer confinada nos limites da casa ou do templo. Há o direito de manifestá-la publicamente. Isso, evidentemente, sem limitar ou constranger o direito dos demais professarem uma fé diferente ou de não aderirem a nenhuma.
Muitas lições poderíamos tirar dessas manifestações públicas de religiosidade, como observamos na semana que passou, por ocasião da festa do Corpus Christi. Uma delas talvez seja considerar que os nossos filhos andam sedentos de um sentido para as suas vidas. E cabe a nós, pais, descobri-lo para comunica-lo. E tudo com um profundo respeito à liberdade. Afinal, ou se ama a Deus livremente ou simplesmente não se ama.
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