
Movidos pelo medo de que seus filhos venham a se perder nesse submundo, muitos pais começam bem cedo a orientá-los sobre o risco que a curiosidade de experimentar pode lhes causar. Mas será que esses conselhos, ainda que reiterados em várias fases da vida, são suficientes?
O tema é complexo e, como tudo em educação, não há receitas prontas. Apesar disso, penso que podemos e devemos ir fundo na questão, buscando a solução na raiz do problema.
E a causa mais profunda está na pouca importância que se dá atualmente para a formação nas virtudes. Dentre elas, muito relacionada com as drogas, está a temperança. De uma maneira bem singela, pode-se dizer que essa virtude assegura o domínio da vontade sobre os instintos.
Lembro-me de um episódio da minha infância, quando ganhei um cavalo do meu avô. No início, na falta de um local adequado para guardá-lo, ficou num pasto demasiadamente grande, sem que ninguém o montasse por um longo período. Assim tornou-se extremamente difícil tentar apanhá-lo para um passeio. E mesmo arreado mostrava-se bastante arredio. Com efeito, era-lhe muito mais agradável a vida solta do que sujeitar-se a um freio, arreio e trazer nas costas um cavaleiro pouco experiente.

No entanto, com essas rédeas soltas, o homem e a mulher acabam por ficarem escravos dessas sensações. E então a razão das suas vidas passa ser a busca desses prazeres momentâneos que nunca satisfazem o coração por completo. O prazer em si é bom. No entanto, quem deve estar no comando da nossa vida é a razão. Ela é a única capaz de nos mover a buscar o bem, ainda que custe esforço e sacrifício.
Apenas para termos uma dimensão do problema, são sintomas dessa ausência de autodomínio muito frequentes em nosso tempo: a obesidade, a tal grau de ausência de controle que por vezes se faz necessário retirar parte do estômago para contê-la, a banalização da infidelidade conjugal, o alcoolismo, o uso de drogas etc. Na raiz disso tudo está uma geração que não foi treinada a ouvir não. Mais ainda, não foi ensinada para saber se privar de algo por amor, em busca de um bem maior.
Por isso, se queremos educar os nossos filhos para que não caiam no vício das drogas, talvez a parte mais importante seja ajudá-los a controlar a vontade. Trata-se de não permitir que seja orientada apenas pelos instintos, mas que seja guiada pela razão. Para tanto, convém não permitir comodidades excessivas.
Algumas dicas práticas disso: combinar com os filhos um horário para cada uma das suas atividades (estudo, lazer, videogame, computador, TV), exigir que tenham encargos em casa e que os cumpram, permitir por vezes que suportem algum incômodo sem reclamar, como esperar um pouco para tomar água numa viagem. Nesse treino, o mais importante é saber se doar aos outros, como cuidar de um irmão doente, fazer de vez em quando uma visita aos pobres e outras iniciativas parecidas.

Ao contrário, se virem que lutamos, ainda que com dificuldades, para sermos cada dia mais senhores nós mesmos para podermos nos doar aos demais, por amor, então estaremos trabalhando na raiz do problema, naquilo que verdadeiramente vela a pena.
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