Ainda
ficam gravadas na memória muitas boas imagens das Olimpíadas do Rio 2016. Como
que ainda degustando esses bons momentos, que nos proporcionaram um saudável
orgulho, vem agora a memória da tocha olímpica entrando no Estádio do Maracanã.
Após percorrer inúmeras cidades em todo o Brasil, finalmente chega ao seu
destino, onde haveria de reluzir durante os jogos. Nos dias que antecederam
esse grande acontecimento, pairavam no ar muitas especulações, dúvidas e
curiosidades sobre quem teria a glória de, afinal, acender o símbolo da paz, da
união e da amizade. A quem caberia a honra de atear o fogo que haveria de
inflamar os corações dos atletas e dos expectadores com o admirável espírito
olímpico?
E eis que
tal honra coube, afinal, a Vanderlei Cordeiro de Lima. Não sei o que se passa
com o leitor, mas a mim a imagem desse grande atleta me soava como alguém que
soube ser vítima de uma agressão e superá-la com brio, espírito esportivo e bom
humor. Com efeito, tornou-se célebre o que aconteceu nos Jogos Olímpicos de
Atenas, em 2004. Ele liderava isolado a maratona, quando houve o famoso
episódio com o manifestante irlandês que o agarrou. Era o km 35, restavam
apenas sete para a linha de chegada. É provável que o empurrão o tenha feito
perder a concentração e, minutos depois, foi ultrapassado por outros dois
corredores.
Talvez a
nossa reação diante de um infortúnio dessa natureza seja a revolta, que nos
leva a queixar da sorte: “poderia chegar em primeiro!”. Ou, pior ainda,
alimentar o ódio contra o agressor, o que traz consigo amargura e desolação.
Mas não foi essa a reação de Vanderlei. Minutos após ele entraria no Estádio
Olímpico de Panathinaikos fazendo o famoso “aviãozinho”, comemorando o bronze
como se fosse o ouro.
Pequenos
gestos como esse denotam uma grande qualidade da alma de um vencedor: a perseverança.
E quando observamos com olhos atentos a juventude do nosso tempo, podemos notar
o quanto precisariam os nossos filhos e alunos ser formados nessa virtude.
Quando os vemos sempre em busca de distrações que demandam pouco ou nenhum
esforço. Quando notamos como desistem dos seus objetivos ao se deparar com um
pequeno obstáculo. Enfim, quando constatamos como fogem do que implica esforço
e sacrifício, podemos concluir que precisamos, urgentemente, ensiná-los a ser
valentes na luta pelos ideais nobres, capazes de dar sentido às suas vidas.
A causa
dessa espécie de frouxidão generalizada remonta à primeira infância. Muitos
pais, talvez angustiados por um drama de consciência por passar longas horas
longe dos filhos, cuidam para que os tempos de convivência sejam apenas de
diversão, com pouca ou quase nenhuma ação educativa. Assim, deixam os filhos à
vontade para fazer o que quiserem, ou melhor, fazendo tudo ou quase tudo por
eles. E isso desde vesti-los – quando já poderiam fazê-lo sozinhos – até
intervindo no relacionamento com as outras crianças para poupá-los de conflitos
e frustrações.
Acontece
que bem diferente é o caminho dos vencedores. São pessoas que passam por
privações, sofrem, frustram-se, não dispõem de todas as comodidades, mas
souberam aproveitar tudo isso para, com tenacidade e perseverança, seguir em
busca dos seus objetivos.
Dizem os
especialistas numa modalidade de esporte, o Jiu-Jitsu, que não é necessário o
uso de força bruta, pois o lutador bem treinado e que adquiriu bem a técnica, aproveita
a força e o movimento do próprio adversário para executar alguns golpes. Penso
que o mesmo princípio pode-se aplicar a muitos aspectos da nossa luta para
sermos pessoas melhores. Isso, porém, não no sentido de ver nos outros inimigos
a serem vencidos, o que seria um terrível equívoco. Mas sabendo enxergar nos
inúmeros revezes das nossas vidas, oportunidades para que a sua força
aparentemente negativa seja encaminhada para a consecução de um ideal nobre e
duradouro.
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