Por
ocasião da celebração das nossas Bodas de Prata, o arcebispo de Campinas, D.
Airton José do Santos, que muito nos honrou ao presidir a cerimônia, nos brindou
com uma sábia lição. Antes da celebração ele nos havia perguntado se havíamos
adquirido novas alianças, que então seriam abençoadas, ao que respondemos que
não, pois gostaríamos de manter as antigas, porém, que as havíamos polido para
aquela ocasião. Aproveitando esse fato, revelado aos assistentes, disse que
assim deve ser o matrimônio: sempre o mesmo, porém, constantemente renovado.
O amor
conjugal possui fases, que precisam ser vividas intensamente no seu devido
tempo. A primeira delas é a atração. Muitos sabemos, talvez por experiência
própria, que num dado momento – um tanto mágico e inexplicável – uma pessoa
passa a exercer um fascínio sobre nós. Não é fácil explicar ou definir essa
atração, mas sabemos que existe. Inclusive pode ela pode surgir entre pessoas
que sequer se conhecem.
Pois bem.
Se após a “flechada” se estabelece um conhecimento mútuo, a ponto de se abrir
um ao outro aspectos da própria intimidade, passa-se sem nos darmos conta, à
fase que podemos chamar como do sentimento. Aqui já não se trata de mera
atração. Mais que isso, conhece-se alguém que passa a ser querido enquanto tal.
Surge então o desejo de estar juntos...
Embora a
fase do sentimento seja extremamente importante no amor conjugal – e quiçá não
se termine nunca – talvez um grande equívoco dos casais do nosso tempo seja
confundir amor conjugal com o sentimento. É essa confusão que explica, por
exemplo, a afirmação de que o casamento acaba quando acaba o amor. De que amor
se está falando quando se diz isso? Precisamente do sentimento, muito
entrelaçado também com a atração de que falávamos.
Há ainda
uma terceira fase: a do compromisso. Da atração surge o sentimento, mas ambos
precisam ser alimentados pela vontade, pois, do contrário, todos perecem.
Assim, num dado momento, homem e mulher que foram tomados por uma atração que
em seguida deu ensejo a um grande afeto mútuo, veem-se diante de uma decisão,
seguramente a mais importante nas suas vidas: essa pessoa que me desperta tão
bons sentimentos merece que me entregue incondicionalmente a ela por toda a
minha vida? O sim a essa indagação é o compromisso matrimonial.
O
casamento é, portanto, o compromisso se amar cada vez mais a pessoa com quem se
une em matrimônio. É como se até então um pudesse dizer ao outro simplesmente:
“eu te amo”. Uma vez casados, agora na fase do compromisso, deveríamos dizer
mais propriamente: “eu te amo e me comprometo a fazer o que está ao meu alcance
para te amar cada vez mais”.
Nesse
sentido, o compromisso matrimonial não é um veneno ao sentimento que reinava na
fase pré-matrimonial. Bem ao contrário, cada qual se compromete, na alegria e
na tristeza, na saúde e na doença, a amar e respeitar um ao outro por todos os
dias daquelas vidas que se unem.
Penso que
é precisamente a isso que aludia nosso arcebispo, com a sabedora e a autoridade
de um bom pastor, ao fazer a analogia do “polir as alianças”. Com efeito, o
compromisso matrimonial, assumido formalmente numa data bem determinada nas
nossas vidas, precisa de ser sempre renovado. E isso não com grandes façanhas,
mas em pequenos gestos, todo os dias.
Trata-se
e o marido se esforçar para surpreender a esposa, talvez com maior criatividade
com que o fazia na época de namoro. Também a esposa saberá cuidar de detalhes
pessoais e da casa para fazerem-se mais atraentes e acolhedoras. Assim, até as
brigas, muitas vezes inevitáveis, podem contribuir para fazer crescer o amor.
Isso, evidentemente, se após elas sobrevier um pedido de desculpas, um beijo,
um abraço afetuoso e o desejo determinado de recomeçar sempre.
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