No nosso último artigo falamos sobre
as brigas dos filhos. O tema comporta diversos aspectos a serem considerados.
Dentre eles, há um especialmente relevante, com sérios reflexos na vida
familiar e social. Trata-se da capacidade de resolverem por si mesmos os
conflitos que surgem nos relacionamentos humanos.
Talvez já tenhamos ouvido – com uma
impensada aprovação – algumas frases ditas por professores, em especial da
educação infantil: “se o amiguinho bater ou xingar, não faça nada, conta para a
tia que a tia resolve...”. A estratégia, numa primeira análise, parece
interessante. Em especial porque supomos que se a menina ou o menino for
resolver diretamente o problema, irá simplesmente revidar a ofensa, o que
poderá desencadear uma briga, talvez com consequências indesejáveis, sobretudo
num ambiente escolar.
No entanto, com essa atitude
reiterada, estamos passando a seguinte mensagem às crianças: não resolvam seus
problemas, chamem alguém para resolvê-los. E essa pessoa chamada a resolver
tais questões será, então, a professora, o professor, a mãe, o pai, o
responsável por um brinquedo num local de diversões etc. Ou seja, cria-se uma
cultura da “heterocomposição”, que consiste num método de solução dos conflitos
em que um terceiro é chamado a intervir.
Por
isso que muitos pais – e penso que também os professores – veem-se
constantemente atormentados com frases do tipo: “pai, Fulano fez isso”, “mãe,
ela me bateu”, “professor, ele pegou o meu brinquedo”. E, com o passar dos
anos, muda-se apenas a pessoa incumbida de decidir. Quantas vezes se fica
sabendo que a árvore plantada próxima ao muro da divisa incomodava o vizinho
somente após receber uma notificação da Prefeitura? Quantas vezes ouvimos em
audiência uma das partes indignadas: “mas ele sequer falou comigo antes de
entrar com a ação! Poderíamos ter resolvido sem precisarmos estar aqui...”.
Os conflitos nos relacionamentos são
oportunidades educativas porque permitem formar nas virtudes, em especial, na
fortaleza e na prudência.
A fortaleza permite agir com firmeza
diante das dificuldades e a ser constante na busca do que é bom e correto.
Assim, é necessário aprender a resolver por conta própria os conflitos. Isso
não quer dizer que se vá estimular a revidar as ofensas, físicas ou verbais. Ao
contrário, devemos estimular nossos filhos e nossos alunos a dizer ao colega
que o agride – com vigor, se necessário – que não concordam com a atitude do
outro.
Para isso, será essencial também a
prudência. Essa, ao contrário do que muitos pensam, não é um convite à omissão
nem muito menos um estímulo à covardia. Ao contrário, ela nos dispõe a
discernir em todas as circunstâncias o que é bom e o que é correto, assim como
a escolher os meios justos e adequados para atingir determinada finalidade. Assim,
por vezes convirá dizer ao agressor prontamente que o seu comportamento não é
adequado. Em outras ocasiões, será necessário esperar um momento adequado,
porém, sempre que possível, buscando uma solução diretamente com o outro, sem a
interferência dos pais, professores, etc.
É inegável que, por vezes, será necessária
a intervenção
do educador. Aliás, a também a justiça é uma virtude de especial relevo, que se
pode definir como a vontade constante e firme de dar cada um o que lhe é
devido. Mas aqui a atuação dos pais ou dos professores deve-se dar num esforço
criativo para fazer com que cada qual consiga colocar-se no lugar do outro.
Basta observarmos por uns instantes o comportamento de muitos motoristas no
trânsito para notar quanta falta faz essa atitude de pensar no outro...
Um dos grandes desafios de todo
educador é ensinar a refletir sobre as próprias ações, escolhas e decisões. A
estratégia para isso, evidentemente, varia de acordo com a idade. Porém, nunca
serão pessoas verdadeiramente maduras enquanto não aprenderem a solucionar sozinhas
os inúmeros conflitos que surgem em suas vidas.
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