Dentre as
inúmeras transformações que o WhatsApp – e outros aplicativos das chamadas
redes sociais – trouxe às nossas vidas, está a possibilidade de se criarem
grupos de pessoas, segundo os mais variados critérios e centros de interesses,
onde se compartilham fatos, experiências, opiniões, curiosidades etc.
Essa
novidade, sem o risco de incorrermos em exagero, pode ser qualificada com uma
verdadeira revolução, dado o impacto que trouxe para a vida das pessoas, da
sociedade e do próprio Estado. Prova disso está, por exemplo, na mudança
significativa nas campanhas eleitorais. Com efeito, quem viveu no tempo em que
a divulgação dos candidatos se dava com a afixação de panfletos nos postes de
iluminação, ao observar o que ocorre nas últimas eleições, aqui e no mundo,
verá que a mudança foi radical.
Como
quase toda mudança, há aspectos positivos e negativos. A velocidade com que se
difunde a informação pode ser muito interessante e trazer inúmeros benefícios.
Porém, com a mesma rapidez também se difunde a mentira, agora intitulada como Fake
News, a calúnia, a maledicência e, também – e que nos interessa mais
diretamente agora – a discórdia.
Quando
pessoas se unem segundo certos critérios, por exemplo, moradores de um
condomínio, colegas de trabalho, torcedores de um time de futebol, adeptos de
certa ideologia etc., em geral, buscam coisas que edifiquem a todos, tais como
compartilhar conhecimentos, interesses, ou mesmo a luta por certas questões.
Porém, com grande frequência, aquilo que reuniu pessoas movidas por interesses
comuns, resvala para a crítica aos que pensam ou agem diferentemente, ou
possuem crenças, posições ou opiniões divergentes. Em suma, um grupo que era
para algo se transforma em um grupo contra algo, contra pessoas ou contra
outros grupos.
Esse
fenômeno, em sua essência, não é uma exclusividade dos tempos atuais. A
natureza social do ser humano sempre fez com que pessoas se reunissem para as
mais diversas finalidades. Por consequência, as associações existem há séculos.
E nelas, com grande frequência, uma reunião que seria para buscar algo se
deturpa para atacar pessoas por motivos de raça, religião etc. Aliás, muitas entidades
secretas já nasciam com um propósito de lutar contra outros grupos pelos mais
diversos motivos.
Mas o que
há de novidade na situação atual é a velocidade com que as coisas acontecem.
Assim, aquilo que no passado exigia reflexão, tenacidade e perseverança para se
concretizar, hoje acontece em segundos. Com isso, atitudes impensadas têm
consequências desastrosas e, muitas vezes, irreversíveis. Uma informação
distorcida ou falsa se alastra rapidamente, de modo que é quase impossível
contê-la ou mesmo atenuar as suas consequências nefastas.
Nesse
contexto, uma qualidade fundamental da mulher e do homem do nosso tempo é – ou
deveria ser – a prudência. Essa, ao contrário do que muitos pensam, não é a
marca da pessoa indecisa, quase sempre inativa, que deixa de agir por medo de
errar. Prudente é a pessoa que sabe em cada situação procurar o verdadeiro bem
e escolher os meios adequados para alcançá-lo. Diz-se dela que é “auriga
virtutum” a condutora das virtudes, pois orienta a tudo o mais, dando a cada
situação o seu peso e a sua medida.
Convém, portanto,
refletir acerca das consequências que pode trazer um simples toque numa tecla “enviar”,
ou “send” (ou o seu símbolo equivalente). Com efeito, tal como o gatilho de uma
arma que se trazia na cintura décadas ou séculos atrás, o seu acionamento pode
ter efeitos terríveis na vida das pessoas ou das instituições. De igual modo, é
obrigação grave de todo educador, em especial os pais e professores, formar o
sentido de responsabilidade nos jovens, que cada vez mais andam armados por
todos os lados, portando esse equipamento de elevado poder lesivo chamado smartphone.
Nenhum comentário:
Postar um comentário