Você já reparou como
corremos de um lado a outro nesses dias que antecedem o Natal e a chegada do
Ano Novo? Qual será o motivo de tanto ativismo nesse tempo?
Penso que um dos
motivos é a falsa esperança que temos de que até o último dia do ano iremos resolver
todos os nossos problemas. É evidente que isso é uma ilusão. No entanto, muitas
vezes agimos como se não o fosse. Com efeito, nos propomos metas no trabalho
que precisam ser atingidas, um conserto no carro ou na casa, que têm de ser
feitos ainda neste ano. Por vezes será um problema familiar, o direito de
visitas a uma filha ou a um filho, negligenciados por vários meses, mas que
precisamente agora queremos retomar...
É momento de colocarmos
uma dose de realismo nos nossos projetos. Não estraga esses momentos festivos
considerar que, no primeiro dia do novo ano, os nossos problemas continuarão
lá, tal como os deixamos no ano que findou. Aliás, poderão estar ainda piores,
se agravados pela ressaca ou, se nesse tempo de festas, procuramos pensar
apenas em nós mesmos e na nossa diversão, esquecendo-nos dos demais. Nesse
caso, o primeiro de janeiro nos surpreenderá com a amarga tristeza que marca a
vida dos egoístas.
A propósito, poderíamos
fazer um exercício mental de considerar o que aconteceria se, como num passe de
mágica, todos os nossos problemas simplesmente desaparecessem. O que faríamos
então? Talvez num primeiro momento nos ocorra pensar que seria uma maravilha,
uma espécie de paraíso aqui na terra. Mas sabemos também que isso é uma ilusão,
por vezes, muito perigosa.
E isso nunca acontecerá
porque não é bom para nós. É que os problemas e as dificuldades são
oportunidades que a cada minuto nos são concedidas para sermos melhores como
pessoas, enfim, para adquirir virtudes. Por exemplo, se tivermos dificuldade no
relacionamento conjugal, talvez seja o caso de nos propormos a sermos mais
pacientes, mais generosos, a pensar mais na esposa (ou no marido) e menos em
nós mesmos. Se passamos por alguma dificuldade econômica, isso também pode ser
ocasião para sermos mais desprendidos dos bens materiais, quiçá considerando
que “tem mais, quem precisa de menos”.
Muito ouvimos falar em
“ano novo, vida nova”. De fato, esse propósito de virar uma página e começar novamente
com ânimo renovado é algo bom. Porém, isso não acontecerá naturalmente e sem
esforço da nossa parte. Por isso, é preferível o realismo que poderíamos
definir como “ano novo, luta nova”.
Certa vez ouvi de uma
pessoa essa afirmação cheia de vibração e de entusiasmo: “eu quero mudar o
mundo; nós vamos mudar o mundo!”. E isso, se bem entendido, não é ilusório. É,
ao contrário, um propósito cheio de realismo. Não se pode deixar de considerar,
porém, os meios que se hão de empregar para atingir esse resultado. E, de certo
modo, tudo o que podemos fazer para construir um mundo melhor é mudarmos a nós
mesmos, é sermos pessoas mais generosas, mais dedicadas aos demais, em suma,
mais virtuosas.
Gosto de recordar
aquela imagem – que já compartilhei outras vezes aqui – da pedra atirada num
lago sereno ao entardecer. Dessa ação surge uma onda, depois outra, até que
todo o lago é atingido pelas ondas. Assim são as nossas boas ações. Alegram
aqueles que nos estão próximos que, por seu turno, sentem as boas disposições
para replicar essa atitude benfazeja com aquelas e aqueles com quem convivem.
E, com isso, constrói-se um mundo melhor ao nosso redor, nos ambientes em que
convivemos.
Portanto, que o Novo
Ano não chegue com a ilusão de uma tranquilidade fundada na ausência de
problemas e na prosperidade, mas com a felicidade e a paz que brotam nos
corações daquelas e daqueles que batalham, dia após dia, para construir um
mundo melhor!
Nenhum comentário:
Postar um comentário