As ações a serem tomadas
seriam muitas e impossíveis de serem enumeradas agora, até porque dependeria
das circunstâncias concretas. Mas há uma postura de fundo que é universal:
afogar o mal em abundância de bem.
Assim, penso que a
atitude que tomaríamos seria cuidado, carinho, acolhida, compreensão, em uma
palavra: AMOR. Isso implicaria uma gama de ações, tais como acompanhamento
psicológico, atendimento médico adequado e humanizado. Mas dentre as inúmeras
possibilidades para cuidar dessa mulher – no caso, dessa menina – que foi
vítima de uma violência sexual horrorosa, não estaria em absoluto, a
possibilidade de tirar a vida do bebê que ela traz no ventre.
Lembro-me do pós-parto
do nosso sétimo filho. Ele teve uma complicação respiratória poucas horas após
o nascimento e, por isso, foi encaminhado à UTI neonatal. Foram dias muito
difíceis. Os pais que já passaram por isso sabem a angústia e sofrimento que
permeia essa situação. Passado o susto inicial, fiquei simplesmente encantado
com o serviço prestado pela Maternidade de Campinais. Ao contemplar o carinho
que dedicavam aos pacientes, aquelas enfermeiras me pareciam uns anjos com a forma
humana. E isso não se deve ao fato de ser paciente de plano de saúde, pois ali todos
tinham exatamente o mesmo atendimento.
Ali na UTI neonatal,
bem ao lado do nosso filho, Rafa, estava outro bebê, que elas apelidaram
carinhosamente de Pedrão. Era um bebê que nasceu de 21 ou 22 semanas, pesava
cerca de 600g e que lutava a duras penas para sobreviver. Nunca fiquei sabendo
por que aquela criatura estava ali. Mas as circunstâncias indicavam que a mãe
fez uma tentativa de aborto “mal” sucedida. Sim, porque o bebê nasceu com vida.
Com isso, sempre que se
fala em aborto, principalmente quando a gestação está mais avançada, vem-me à
memória o Pedrão. Não sei se ele resistiu e sobreviveu, mas sou testemunha de que
lutou para viver. E era de encher os olhos – de alegria e de dor – ver o
carinho com que aquelas moças, verdadeiras profissionais da saúde a serviço da
vida, cuidavam dele, dia e noite...
Creio que já disse o
que penso e que posso dizer sobre o caso que nos propõem. Mas ouso acrescentar
algo mais. Muitos de nós, cristãos, fazemos muita gritaria em defesa da vida,
principalmente em casos dessa natureza. E devemos mesmo lutar mesmo para que o
respeito à vida, desde o nascimento até o seu fim natural, seja assegurado nas
Leis, nas políticas públicas, nas ações dos governantes, na sociedade, na nossa
família e em cada um de nós.
Não nos esqueçamos,
porém, que é preciso acolher essas mulheres, que por motivos que não nos cabe
julgar tenham cometido esse erro terrível. Com efeito, se elas um dia forem atrás
desses algozes que trabalham para tirar a vida de um ser inocente, e se
disserem arrependidas, talvez ouçam algo do tipo: “que nos importa, é lá
convosco”. Mas um cristão autêntico não pode agir assim! É preciso acolher, é
preciso compreender, é preciso perdoar. É preciso, enfim, um amor que seja
cautério que cicatrize as feridas, muitas vezes profundas, deixadas pelos
inimigos da vida.
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