sexta-feira, 21 de julho de 2017

Medicina humanizada

Muito se tem defendido e reverenciado atualmente o que se convencionou chamar de humanização da medicina. Trata-se de um conceito vago, mas que se tem entendido como uma postura mais acolhedora, diligente e aberta ao diálogo a ser assumida pelos profissionais da saúde.
Com a descoberta de novas tecnologias, lamentavelmente se instaurou uma tendência para se centrar a atenção no uso desses recursos, de eficácia inquestionável, porém, com uma sensível perda na qualidade da relação mantida entre o profissional e o paciente. A causa do empobrecimento desse relacionamento não está, evidentemente, no avanço tecnológico em si, mas na postura que assumiram alguns profissionais da saúde a partir da sua disseminação.
Recentemente tive a grata surpresa e a enorme satisfação de conhecer o Hospital do Câncer de Barretos. Dizíamos acima que não é fácil estabelecer um conceito preciso do que se entente por humanização da medicina. Ali, porém, podemos aprender na prática, com inúmeros exemplos concretos, o que significa um atendimento humano e integral.
Algo de diferente já se nota no profissional que controla a entrada no estacionamento. A solicitude com que ouve, a clareza com que expõe as regras de uso do local, sempre com um sorriso a esbanjar respeito e compreensão já advertem que verdadeiramente estamos a entrar num local diferente.
Os profissionais da recepção, por sua vez, sabem harmonizar a competência na coleta de dados e nas informações transmitidas com um tom carregado de afeto e compreensão para com aquelas e aqueles a quem atendem.
Quando observamos a postura dos médicos então a surpresa positiva cede lugar a uma feliz perplexidade. Com efeito, como é possível manter um ar sereno e alegre em meio a tanta dor e sofrimento estampados nos rostos dos seus pacientes?
O serviço de enfermagem, ao menos no caso que pude testemunhar, é verdadeiramente um “show à parte”! A jovem encarregada de atender pacientes na UTI, com um carinho indescritível chamava de “meu Anjo” a uma paciente recém chegada. Penso que talvez nem uma filha esbanjaria tanto carinho.
Historicamente muitas instituições de saúde foram fundadas e mantidas por entidades religiosas. Daí o nome “Santa Casa de Misericórdia” ou outros semelhantes. As mulheres e os homens que se lançavam nesses empreendimentos o faziam por uma forte convicção de fazer o bem ao semelhante. Buscava-se curar a doença, na medida do possível, mas almejava-se algo mais, que era precisamente o exercício da caridade com os necessitados e sofredores.
Com o crescimento do papel do Estado, esse chamou para si a responsabilidade pela assistência integral à saúde. Isso tem um dado positivo. É que os cidadãos, especialmente os mais pobres, passam a contar com a assistência à saúde como um direito social, não dependendo exclusivamente da filantropia de algumas entidades. Porém, nessas instituições públicas, que não tem o “algo mais” a motivar a sua atuação, não raras vezes se olha para a doença e não para o doente.
Nesse tema, porém, convém não cairmos em excessiva generalização, sob pena de incorrermos em graves injustiças. Isso porque há estabelecimentos de saúde públicos em que se conta sim com essa atenção especial e diferenciada ao paciente. Porém, em grande parte, isso é fruto de iniciativas isoladas de determinadas pessoas, e não necessariamente consequência de uma missão assumida pela instituição e que vem a contagiar e a orientar a ação de todos os seus funcionários.

Esse fenômeno da “desumanização” das relações não é exclusivo da medicina. Em inúmeros outros segmentos se fazem notar os seus sinais. Aqui, porém, os seus resultados são mais perniciosos. É que já se disse que o nível de desenvolvimento de uma sociedade se pode medir pela maneira com que se tratam os mais frágeis: crianças, idosos e doentes. Nesse cenário, o magnífico exemplo do Hospital do Câncer de Barretos soa como um ponto luminoso, dentre inúmeros outros que se acendem aqui e ali, cujo resultado, esperamos, seja a consolidação de uma medicina mais humana e uma sociedade mais solidária.

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