Há poucos dias um amigo observou,
em tom de crítica, que um funcionário que fica incumbido de controlar o acesso
a uma determinada repartição, poderia ser facilmente substituído por um sistema
de controle eletrônico, o que por certo reduziria os custos.
Essa observação fez recordar o
contexto vivenciado atualmente na Europa. Lá é usual o motorista se encarregar
de colocar combustível no veículo. Além disso, as máquinas de café, salgadinho
e até de sopa estão espalhadas a todo canto.
Poucos dias naquele cenário
envelhecido são suficientes para sentir imensa saudade de umas palavras
amistosas com o frentista, talvez com uma ou outra brincadeira futebolística,
ou mesmo de pedir um café e um pão de queijo a uma pessoa de carne e osso, a
quem se pode olhar nos olhos e terminar a operação com um sincero “muito
obrigado”.
É inegável que a modernidade
trouxe avanços tecnológicos que permitem melhorar as condições de trabalho. Mas
será que a mecanização da indústria, e agora também do comércio, tem se pautado
no rumo de melhorar a condição do ser humano que trabalha? Ou a tônica é
reduzir custos?
Mesmo dentro da lógica de
aumentar o lucro a todo custo, apenas automatizar – substituir homem por
máquina, pode ser o último recurso de gestores medíocres. Competir em custo
nunca é bom. Sempre existe alguém que está disposto a entregar um serviço pior,
por um preço menor. Nesse caso, os clientes podem comprar essa solução por
falta de empresários realmente empreendedores.
Também não se trata de inventar
trabalhos desnecessários, simplesmente para manter as pessoas ocupadas, com
iniciativas do tipo cavar um buraco pela manhã para tapá-lo a tarde. Mas
devemos sim refletir sobre quais trabalhos podem ou devem ser substituídos pela
máquina e por quê.
A questão não é simples. Por
certo muitos dirão que a concorrência é cada vez mais acirrada, de modo que a
redução de custos e, por consequência, do preço é questão de sobrevivência.
Apesar disso, e sem pretender agir com ingenuidade, há de se estabelecer um
critério a nortear as decisões das pessoas com isso relacionadas: empresários,
governantes, legisladores...
E o critério penso que deve ser a
promoção da dignidade da pessoa humana. Nesse sentido, o avanço tecnológico
deve estar a serviço da vida com qualidade para todos.
Muitas empresas já viram isso.
Talvez a Toyota tenha sido a que o fez com maior sucesso e primeiramente. O
modo de sair deste dilema entre homem e máquina é empregar homem onde ele é
efetivamente muito melhor que a máquina. E deixar para a máquina tarefas onde
ela é melhor, também para promover a dignidade de quem é dispensado daquela
função.
Esse critério poderá, por exemplo,
levar a dispensar o trabalho dos cortadores de cana – que agride severamente a
sua saúde em condições inóspitas – por máquinas que fazem a mesma operação,
conquanto que haja uma política consistente de emprego para os mesmos. E, por
outro lado, poderá dispensar máquinas onde o sorriso e o bom dia bem real se
fazem insubstituíveis.
Penso que num futuro próximo, só
empresas que usem de modo efetivo as competências e habilidades humanas em
conjunto com a automação das máquinas sobrevirão.
Nesse admirável mundo novo em que
estamos inseridos, talvez um grande desafio seja usufruir da tecnologia sem
prejuízo para a qualidade das relações humanas. Mais ainda, que os avanços as
fomentem e aprimorem. A propósito, quem não gostaria que o médico fosse sempre
bem atencioso ao que dizemos e sentimos, talvez com a mesma atenção com que
procura na tela do seu computador os resultados dos complicados e sofisticados
exames que solicita?
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