Um amigo me comentou uma
experiência que vivenciou no horário de saída de um colégio. Alguns pais e mães
compareciam apressados e, muitas vezes sem interromper a conversa no celular,
instavam os filhos a entrar o quanto antes no veículo. “A criança esteve ali
por várias horas e o pai ou a mãe sequer se dignavam dar um beijo, um abraço,
ou ao menos uma recepção mais calorosa, olhando nos olhos e procurando saber
como havia sido o dia do filho ou da filha”, desabafou ele.
A revolução tecnológica que
marca a nossa era tem muitos efeitos positivos. Muitas tarefas que décadas
atrás demandavam muito tempo e esforço, hoje se resolvem num clique.
Paradoxalmente, contudo, as pessoas se sentem cada vez com menos tempo. E, se
não estivermos atentos, isso pode ter como consequência o empobrecimento das
relações familiares.
A criança, sobretudo na
primeira infância, tem uma necessidade muito grande de experimentar o amor dos
pais pela afetividade. Sabemos que o amor não se resume a um sentimento. É
muito mais que isso e se manifesta também na vontade de querer o bem da pessoa
amada, bem como na capacidade de se sacrificar pelo outro. Apesar disso, nos
primeiros anos de vida, o afeto desempenha um papel fundamental na vida dos
nossos filhos.
Nessa idade eles ainda não
possuem uma noção clara de tempo. Sequer sabem o que significa “estou
atrasado”, “tenho um compromisso importante” etc. Pelo contrário, gostam que
estejamos atentos ao que nos dizem, ainda que nos pareça sem importância.
Muitas vezes é necessário sabermos nos abaixar para falamos olhando nos olhos,
ou ainda pegá-los no colo e, nessa posição, ouvi-los atentamente. Enfim, que
sintam no calor de um abraço quanto os amamos.
É certo que muitas vezes fazemos
isso. No entanto, também com muita frequência, perdemo-nos da correria do
dia-a-dia e deixamos essas manifestações de afeto apenas para quando algo
interior nos abrasa e então queremos “comê-los de beijos”. Porém, com o ritmo
frenético e as preocupações cotidianas, esses impulsos são cada vez menos
constantes. Por isso, é necessário estarmos atentos e nos esforçarmos para que
essas demonstrações de afeto sejam diárias e sinceras.
Devemos considerar, também,
que as pessoas são muito diferentes. Assim, para alguns pais é mais fácil que a
outros manifestar a afetividade. Apesar disso, o amor por nossos filhos
manifesta-se muito especialmente no esforço por nos superarmos, fazendo algo
que nos custa, precisamente porque os amamos.
Mas há, também, um dado
oposto. Ou seja, algumas mães e pais são pródigos em fazer carícias, mas nem
sempre se empenham em educar, que é igualmente demonstração de amor e sincero
interesse pela felicidade dos nossos filhos. A correção não é incompatível com
o carinho. Podemos corrigir, com energia às vezes, mas de uma maneira afetuosa,
com respeito e desejo de que se comportem adequadamente para o bem deles.
Gostaria terminar novamente com o relato de
um acontecimento muito marcante. O pai chegou a casa, mal cumprimentou a esposa
e os filhos e foi para o escritório para continuar um trabalho que era muito
urgente. Passados uns minutos, o filho, muito acanhadamente, aproximou-se da
porta do escritório e disse: “Pai, posso fa...”. “Filho, já disse que tenho um
trabalho muito importante, vai deitar que já está na hora”, disse o pai, sem
esperar que o filho completasse a frase. O filho obedeceu, porém, passada cerca
de meia hora, retornou: “Pai, posso fazer apenas uma pergunta?”. “Fala logo”,
respondeu o pai, sem parar o que estava fazendo. “Quanto é que você ganha por
hora de trabalho”. O pai ficou meio desorientado, mas, para se livrar logo da
importunação, respondeu sem pensar muito: “Não sei, filho, acho que uns R$ 50,00” .
Com a resposta o filho foi
para o quarto. Mas agora, curioso com a pergunta, o pai foi até o quarto do
filho. Lá chegando, notou que ele tinha várias notas de pequeno valor e um
saquinho com muitas moedas. E então o pai lhe perguntou: “Filho, por que deseja
saber quanto ganho por hora?”. Então o filho disse ao pai: “É que faz dois
meses que estou juntando esse dinheiro. Tenho agora R$ 47,50. Se eu te der o
dinheiro, dá para o senhor ficar 57 minutos comigo?”.
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