Em meio a notícias de crimes
hediondos cometidos com a participação de adolescentes tem-se acendido o debate
acerca da redução da maioridade penal.
Expliquemos inicialmente a
questão sob o aspecto jurídico. Dispõe o artigo 26 do nosso Código Penal que: É isento de pena o agente que, por doença
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação
ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.
Nesse dispositivo a Lei estabelece
duas situações nas quais não pode ser imposta a pena: (1) se, por possuir um
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, a pessoa é incapaz de entender
que uma determinada conduta é errada (ilícita, contrária às regras etc.) ou;
(2) mesmo que saiba que essa conduta é contra a Lei, não consegue se comportar
de acordo com a norma.
Na sequência, o nosso Código
Penal, no seu artigo 27, estabelece que “Os menores de 18 (dezoito) anos são
penalmente inimputáveis”. No mesmo sentido está o artigo 228 da Constituição
Federal. Com isso, há uma presunção absoluta de que quem ainda não atingiu essa
idade não consegue entender que aquelas condutas tidas como crimes (matar,
roubar, traficar substâncias entorpecentes etc.) são contrárias à Lei, ou ao
menos não consegue se comportar de acordo com esse entendimento.
É evidente que tal presunção
é absurda. Aos dezesseis anos (ou mesmo antes disso) os jovens já possuem uma
noção clara de certo e errado e, com mais ou menos esforço, também conseguem
agir de acordo com esse entendimento.
Mas a questão não pode ser
enfrentada com argumentos simplistas. Considerar o jovem de 16 anos como
penalmente imputável significa que poderá, em última análise, cumprir penas
privativas de liberdade em presídios, que muito bem poderiam servir para eles
como autênticas escolas para a criminalidade.
Por outro lado, também é
certo que o crime organizado cada vez mais tem se valido de menores para atuar
na linha de frente. Assim é que os pontos de distribuições de drogas contam com
adolescentes que, em caso de virem a ser flagrados, podem confessar o delito
sem delatar os demais integrantes, posto que em breve haverão de ser liberados
pelo Juízo da Infância e Juventude.
Há quem sustente que as
chamadas medidas socioeducativas podem perdurar por tempo superior às penas
impostas por muitos crimes. No entanto, nem sempre é assim. Tomemos o exemplo
do latrocínio, em que a pena mínima é 20 anos. Se for praticado por um
adolescente de 17 anos, inclusive com requintes de crueldade a ponto de atear
fogo na vítima, estará sujeito à medida de internação, que não poderá exceder a
três anos e jamais o infrator poderá permanecer nos estabelecimentos em que se
cumprem essas medidas após completar 21 anos de idade!
É inegável que os presídios
e os estabelecimentos destinados à internação de adolescentes não recuperam
ninguém. No entanto, a sensação crônica de impunidade que nos aflige causa um
mal enorme a todos, em especial às novas gerações. Por isso, penso que a
redução da maioridade penal deveria ser considerada seriamente, ainda que esses
jovens devessem cumprir penas em estabelecimentos adequados a sua idade e
condição.
No entanto, seria uma
terrível ingenuidade supor que isso resolveria o problema da delinquência
juvenil. O crescente número de infrações cometidas por adolescentes é apenas um
reflexo de uma sociedade cada vez mais desumana.
Cada mulher e cada homem que
povoa o planeta somente encontra um sentido para sua vida se souber que é fruto
do amor. Temos a necessidade vital de saber que nascemos como o transbordamento
do amor entre um homem e uma mulher. Mais ainda, que o próprio Deus manifestou
o seu Amor através daquele casal no ato de nos chamar à existência.
O nosso grande desafio,
portanto, é fazer com que a família venha a ser aquilo que na sua essência é:
berço da vida e escola de amor e para o amor. Do contrário, ficaremos apenas
discutindo, em vão, a partir de quando podemos segregar os nossos semelhantes
que não souberam ou não puderam receber o amor que tanto anseiam difundir neste
mundo, ainda que não o saibam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário