Circulou
nas redes sociais uma análise da situação da Previdência Social no Brasil, com
o que se pretende sustentar que não há fundamento para o déficit nas contas
dessa instituição. Transcrevo o texto:
“Vamos ver se a previdência é realmente
deficitária. Vejamos: Salário R$ 880,00. Contribuição total INSS (patronal +
empregado = 20%) R$ 176,00 mensais. 35 anos são 420 meses. Pegando-se o valor
de R$ 176,00 mensais e aplicando-se o rendimento da poupança (o pior que
existe!) de 0,68% e juros compostos. Total arrecadado R$ 422.784,02. Considerando-se
a expectativa de vida em 75, e que em média o brasileiro se aposenta com 60
anos somente receberá a aposentadoria por 15 anos, porém, o montante acumulado
é suficiente para pagar 40 anos e 3 meses de salário equivalente à contribuição,
ou seja, segundo o cálculo feito 880,00 mensal, sem contar rendimentos”.
O
argumento é, de fato, sedutor e aparentemente convincente. No entanto, com o
devido respeito, não leva em consideração um dado fundamental: em quase todos
os regimes de previdência pública são os trabalhadores da ativa que custeiam os
benefícios dos aposentados e pensionistas.
As
contribuições pagas pelos trabalhadores e pelos empregadores atualmente não
ficarão numa poupança aguardando o momento para ser sacado por seu titular. Ao
contrário, os valores pagos atualmente são utilizados para custear os
benefícios agora concedidos e mantidos pela Previdência Social. Do mesmo modo,
também os aposentados e pensionistas de hoje contribuíram, quando estavam na
ativa, para o pagamento dos benefícios concedidos décadas atrás.
Uma vez
estabelecida essa premissa, convém analisarmos alguns fatores que influenciam
diretamente no problema. Refiro-me à acentuada queda na natalidade e ao aumento
progressivo da expectativa de vida dos brasileiros. Não estamos a afirmar que
ambos sejam problemas em si. Concretamente, tenho que a longevidade do nosso
povo merece ser comemorada, em especial se for acompanhada de uma melhor
qualidade de vida. Porém, é inegável que irá impactar, num futuro não muito
distante, nas contas da Previdência.
Segundo
dados do IBGE, a taxa de fertilidade da mulher brasileira caiu de 2,4 filhos
por mulher em 2000 para 1,72 em 2015 (http://brasilemsintese.ibge.gov.br/populacao/taxas-de-fecundidade-total.html). Portanto, estamos muito aquém do nível de reposição populacional, que
é de 2,1 filhos por mulher. Isso significa que a população, num determinado
momento, começará a diminuir. Antes disso, porém, ocorrerá um recuo da
população economicamente ativa, como consequência de um envelhecimento da
população. E a consequência desses fenômenos na Previdência é evidente: menos
trabalhadores da ativa terão de pagar mais aposentados e pensionistas.
Mas há,
como dissemos, outro fator a considerar, que é o aumento na expectativa de
vida. De 1940 a 2015, a esperança de vida no Brasil para ambos os sexos passou
de 45,5 anos para 75,5 anos, o que representa um aumento de 30 anos. Esse dado,
embora extremamente positivo, tem um impacto nas contas da Previdência, pois
aumenta o tempo em que irão perdurar os pagamentos dos benefícios.
Ao
contrário do que possa parecer, porém, não estamos com esses argumentos saindo
na defesa do Governo na questão da Reforma da Previdência, até porque muitos
dos seus pontos são passíveis de críticas que esperamos ver corrigidos no
Congresso Nacional. O que é necessário e urgente é meditarmos sobre as consequências
da acentuada queda da natalidade. Isso já traz reflexos em vários outros
aspectos, como por exemplo, a proliferação de abrigos para idosos. Com efeito,
é cada vez mais difícil numa sociedade de filhos únicos cuidarmos adequadamente
dos nossos pais.
A questão
da Previdência é apenas um alerta para uma terrível injustiça que estamos
cometendo com as futuras gerações. Com efeito, fomos nós que decidimos não ter
filhos e, apesar disso, estamos deixando para os poucos descendentes que
tivemos uma conta enorme a ser paga.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabéns Dr pelo belo trabalho, lendo seus artigos fico até com receio de litigar em processo de Vossa responsabilidade tamanha a Sabedoria, o importante é saber que estaremos diante de um Bom Magistrado, isso nos dá força mesmo não conhecendo a fundo vosso posicionamento. Assim que puder marcaremos uma conversa, pois é isso que salva o mundo jurídico tão conturbado. Abraço Fraterna Excelência. Equipe Passos dos Santos Advocacia.
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