No artigo anterior comentamos a chamada crise
na Previdência Social, oportunidade em que fizemos considerações sobre os
impactos que o envelhecimento da nossa população terá nessa questão. Com
efeito, observamos uma acentuada queda no índice de natalidade que poderá ter
inúmeros reflexos negativos em nosso País.
Apesar desse dado, é evidente que ninguém se
aventuraria a ter filhos como uma forma de salvar a Previdência Social, ou
mesmo para evitar graves danos à economia do País. Nossos filhos são seres
humanos dotados de uma dignidade imensa, não meros agentes econômicos ou
simples dados estatísticos. Mas então o que deveria nortear tão importante
decisão?
Se fizermos uma rápida pesquisa na INTERNET,
encontraremos inúmeros sites e matérias publicadas que vão desde 10 motivos
para não ter filhos até mil razões para não tê-los. Apesar da diversidade de
autores e formas de abordagem, os argumentos podem ser resumidos em três: 1- os
filhos custam caro... e há até quem elabore um orçamento de quanto se haverá de
dispender desde o parto até atingirem a independência econômica; 2- acabarão
com a diversão ou com a liberdade com que podem “desfrutar das coisas boas da
vida”; 3- vão interferir no relacionamento do casal, de modo que não poderão mais
viver um para o outro. Mas será mesmo assim?
Penso que a resposta a uma indagação dessa
envergadura depende de outros questionamentos ainda mais profundos, que tocam
nas razões da nossa existência. Antes de responder se devemos ou não trazer novos
seres ao mundo, deveríamos nos indagar com uma valente sinceridade: o que estou
fazendo aqui? De onde vim? Para onde vou? Qual é o sentido dessa breve
existência terrena?
É que a maternidade e a paternidade somente encontrarão
o verdadeiro sentido se nos indagarmos acerca da nossa missão neste mundo. É
que ser mãe e ser pai são uma verdadeira vocação. Bem por isso que a questão
toca em algo que é essencial para a realização pessoal, com reflexos diretos e
profundos na sociedade em que vivemos.
Tivemos a imensa alegria de conhecer o casal
Josemaria Postigo e Rosa Pich. Eles formaram uma família muito grande. Foram 18
filhos. Muitos deles nasceram com problemas de saúde. Por esse motivo, o
segundo filho, com apenas um ano e meio veio a falecer, quando mãe estava
grávida do terceiro. Esse também faleceu um dia após o parto, quatro meses após
a morte do irmão. E a filha mais velha, já adulta, faleceu há cerca de quatro
anos. Apesar de tanto sofrimento, naquele lar somente se respira serenidade e
alegria.
Certa vez, quando vieram de Barcelona a São
Paulo para impulsionar o trabalho de orientação familiar no Brasil, durante uma
conferência, alguém lhe formulou a seguinte pergunta: “Rosa, por que tantos
filhos? Por que ter uma família tão numerosa no mundo de hoje?”. Fez-se um
grande silêncio na plateia, ávida pela resposta. Ela, porém, com a simplicidade
que lhe é tão peculiar, limitou-se a dar um beijo no rosto do marido, depois se
voltou à sua interlocutora e respondeu: “É porque eu amo esse homem!”.
Noutra ocasião, enquanto os visitávamos em sua
casa, uma brasileira que nos acompanhava fez a mesma pergunta. Naquela
oportunidade, presenciava a conversa de uma das filhas, então pré-adolescente,
com ares de rebeldia natural da idade, a quem tais assuntos não pareciam agradar
muito. Mas a sábia mãe limitou a responder: “mira, qué guapa!” (veja, que
linda!). A filha não conteve um sorriso de satisfação. Com gestos muito
eloquentes como esses, Rosa e Chema souberam dizer ao mundo que os filhos são a
personificação do amor profundo entre um homem e uma mulher.
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