Inicia-se
um novo ano! Sempre achei interessante deter uns minutos a considerar as
felicitações que recebemos nessa época. Outrora recebíamos cartões de natal,
agora substituídos quase totalmente pelo whatsapp ou pelo Facebook. Mas ainda
que mudaram radicalmente os meios de comunicação, o conteúdo das mensagens
permanece essencialmente o mesmo: que sejamos felizes e que tenhamos saúde e
paz. Mas o que nos cabe fazer para alcançarmos tudo isso que nos desejam?
Penso que
a indagação é relevante, pois sempre corremos o risco de pensar que essas
coisas boas a que tanto aspiramos dependem exclusivamente da sorte, das
conjunturas externas ou das pessoas com quem convivemos. Com isso, não nos
detemos a considerar o que nos cabe fazer para alcançarmos a felicidade e a paz
a que tanto aspiramos.
De fato,
ter ou não ter saúde de não depende exclusivamente de nós, mas de muitos
fatores em relação aos quais temos pouco ou nenhum controle. No entanto, estará
sempre ao nosso alcance sermos felizes e nos mantermos em paz por piores que
sejam as circunstâncias por que passam as nossas vidas.
Já se
disse que a alegria está para nós como a bússola está para as embarcações. São
um sinal de que estamos no caminho certo. Todos nascemos com uma missão a cumprir
nesta vida. Assim, se orientamos os nossos pensamentos, desejos, afetos e ações
no sentido de cumprir essa missão, a consequência será que manteremos um estado
de perene alegria.
Essa
alegria, sinal inconfundível de caminhamos para o verdadeiro fim para o qual
fomos criados, não é um mero sentimento passageiro, semelhante à euforia de que
desfruta um animal sadio e bem alimentado. É algo mais profundo, o estado
habitual da pessoa. Talvez já tenhamos a grata satisfação de conhecer uma
pessoa que está habitualmente alegre. É provável que a vida não lhe tenha
poupado dores e sofrimentos, porém, souberam superar a todas essas dificuldades
com ânimo sereno e com sentido positivo.
Nesse
sentido, quando nos desejam – e nós também aspiramos ardentemente – a alegria e
a felicidade, estejamos certos de que 2018 não nos trará isso “automaticamente”,
como num passe de mágica. Cabe a cada um de nós assentar as bases nas quais
elas poderão ser edificadas. E esse fundamento sólido sobre o qual podemos
construir são as virtudes: fé, amor, esperança, justiça, fortaleza, prudência,
temperança etc.
E se
tivermos dúvidas sobre em que aspectos do nosso caráter devemos empreender
maiores esforços para progredirmos, talvez nos sirva de ajuda pensar sobre como
nos veem as pessoas que convivem conosco. Do que se queixam de nós as nossas
esposas, os nossos maridos, os nossos pais ou os nossos filhos? Será que fomos
muito ranzinzas e “reclamões”? Teremos perdido a paz com ninharias no trânsito,
com as coisas da casa? Ou estaremos excessivamente preocupados com as
dificuldades econômicas?
Uma importante característica do bom navegante
é a vigilância. Com efeito, é necessário corrigir prontamente os pequenos
desvios de rota. Pois, se tardarem em fazê-lo, uma pequena diferença será o suficiente
para que não cheguem ao porto. Algo de semelhante deveria ocorre conosco. As
pessoas que, com o avançar dos anos se tornam ásperas, queixosas e pessimistas
não atingiram esse estado de repente. Foi uma sucessão de vícios e defeitos não
corrigidos que lhes levaram a esse deplorável estado da alma.
Mas sempre
é tempo de corrigirmos os rumos da nossa alma. E uma boa estratégia de luta é
começar com coisas pequenas. Lembro-me de um amigo que anotou na agenda pessoal
um estranho propósito para um ano novo: “baixar a tampa do vaso sanitário após
o uso”. Isso, porém, está longe de ser uma bobagem. Na verdade, ele havia feito
uma lista das coisas que ele fazia e que agradavam ou desagradavam a esposa. E
resolveu começar por essa...
São
Josemaría Escrivá tinha como lema que repetia nessas datas: “Ano novo, luta
nova!”. A frase, aparentemente singela, é de uma enorme transcendência. É que a
felicidade e a paz a que tanto aspiramos depende de uma luta cotidiana para
sermos cada vez melhores.
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