Muitas
vezes ouvi dizer, em tom de crítica e com forte dose de pessimismo, o seguinte
desabafo: “depois que morre todo mundo vira santo!”. Confesso que isso sempre
me intrigou. De fato, todo ser humano que passou por essa existência terrena e
que tenha atingido a idade da razão teve defeitos, muitos deles talvez os
tenham acompanhado até o último instante. Sendo assim, seria justo esse
enaltecimento das virtudes após a morte?
Quando
alguém muito próximo a nós parte desta vida, talvez consigamos compreender esse
fenômeno.
Uma
pessoa com quem convivemos proximamente não consegue esconder os seus defeitos
e as suas limitações. Na intimidade do lar é impossível manter as máscaras que
frequentemente vestimos no ambiente de trabalho ou no convívio social. E então vemos
os demais e somos vistos por eles com maior claridade, tal como se é.
Por outro
lado, porém, não raras vezes, somos implacáveis em reconhecer os erros dos
outros, ao mesmo tempo em que mantemos uma incrível incapacidade de reconhecer os
próprios defeitos e limitações.
Mas após
a morte, com a dor da separação, é muito frequente que ocorra o inverso.
Ganhamos luzes para ver quanto bem aquela pessoa nos proporcionava. Uma pequena
comparação – deveras imperfeita – talvez nos ajude a compreender. Quando
estamos num edifício jamais reparamos numa imponente barra de concreto que lhe
dá sustentação. No entanto, se ela se romper e o prédio vier abaixo, então
poderemos lhe atribuir o devido valor.
Muitas
vezes agimos assim com as pessoas que nos são próximas. Não sabemos valorizar
os pequenos e grandes serviços que nos prestam, o quanto se desgastam no
dia-a-dia pelos demais, nem o valor que tem a sua simples presença amiga e
acolhedora. Com a sua partida, esse vazio parece emitir um grito silencioso que
nos toca a alma: “meu Deus, como ele era bom!”.
Há duas
semanas partiu desta vida terrena o meu pai. Um dos maiores consolos que ouvi –
dentre as inúmeras mensagens de condolência – foi considerar que Deus age como
um bom jardineiro, que colhe para o seu jardim as melhores flores, levando-as
para junto de Si no melhor momento, naquele em que cada alma atingiu a sua
plenitude.
E quando Deus
chama alguém para si, de certo modo empresta Seus olhos para que nós, que
permanecemos nesse vale de lágrimas, possamos contemplar aquela alma que
transpassa os umbrais da eternidade, tal como Ele a vê, em sua infinita
misericórdia.
É
evidente que tal se dá de maneira imperfeita – porque somos deveras imperfeitos
– e também experimentamos isso, em maior ou menor medida, conforme as nossas
disposições em obter a pureza de coração necessária para obtermos de Deus a sua
infinita misericórdia. Mas quão saboroso é comtemplar as obras benfazejas
daquelas pessoas que amamos, que agora reluzem com a sua partida para a
eternidade!
Mas... E
aqueles defeitos que em vida nos pareciam inegáveis? Ora, Deus os apagou com a
sua infinita misericórdia! Bendito perdão que varre todos os erros cometidos,
inclusive da nossa memória, se buscamos imitar o amor misericordioso de Cristo.
Meu pai
foi um homem bom. Quando alguém lhe compartilhava um problema ou manifestava
uma preocupação, imediatamente ele tomava aquilo como próprio. Sabia sofrer com
quem sofre, chorar com quem chora. Mas também sabia sorrir com quem sorria.
Soube amar sem esperar retorno, doar-se para aquelas e aqueles que sabia que
não poderiam lhe retribuir nesta vida.
Não é
verdade que todo mundo que morre vira santo. Mas é inegável que as virtudes
daqueles que partem para Deus reluzem com a sua partida, dentre outros motivos
para nos alentar a lutar. Meu pai deixou e deixará muita saudade. Mas o Pai do
Céu, de tão bom que é, jamais retirará das nossas mentes e do nosso coração a
bondade que ele nos legou, afinal, foi com ela que ganhou a eternidade.
Pai,
muito obrigado!
Sabia sofrer com quem sofre, chorar com quem chora. Mas também sabia sorrir com quem sorria. Soube amar sem esperar retorno, doar-se para aquelas e aqueles que sabia que não poderiam lhe retribuir nesta vida.
ResponderExcluirGrande verdade. Esteve ao meu lado quando precisei de apoio espiritual. Sou eternamente grato.
Meu querido ñ podia esperar homenagem menos bela do que essa...."Obrigada Fábio"....
ResponderExcluirCertamente um homem bom, que com serenidade e um sorriso confortante sabia agradar e servir, com poucas vezes em que tivemos uma convivência durante o Caminho da FÉ de bike, sendo apoiado por qualquer necessidade ou ao menos uma palavra de estímulo, estava lá o Seo Orlando para nos motivar e oferecer uma laranja, e já descascada e com o corte da "tampinha", que maravilha!! Deixará boas lembranças!
ResponderExcluirPalavras lindas e verdadeiras. Todos os que tivemos oportunidade de conhecê lo sabenos o quão valioso e bondoso era, e por isso estará sempre dentro de cada um de nós, e os defeitos...defeitos? Quem não os tem?
ResponderExcluirUm abraço grande a todos vocês, com mto amor e carinho da japonesa que adora essa familia!
Convivi pouco tempo com o Sr. Orlando, mas foi possível constatar o apreço e atenção que ele dedicava aos que estavam ao seu lado. Certeza eu tenho que você Fábio, herdou de seu pai a bondade e a humanidade necessárias para fazer a vida daqueles que estão proximos, um pouco mais alegre.
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