Pesquisa
realizada pela Confederação Nacional do Comércio aponta que, em outubro de
2.018, o percentual de famílias que relataram ter dívidas entre cheque
pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo
pessoal, prestação de carro e seguro alcançou 60,7%. O estudo também revela que
23,5% possuem dívidas com atraso e 9,9% declararam que não terão condições de pagar
os seus débitos!
Diante
desses dados, vem à memória os sábios conselhos que dava um grande homem em
palestra ministrada a casais. Dizia ele: “uma família com dívidas é presa fácil
do diabo”. É claro que essas palavras precisam ser entendidas no contexto em
que foram ditas. Com elas queria o palestrante dizer que as aflições geradas
pelo endividamento excessivo podem colocar o casal em briga, quiçá cada um
atribuindo ao outro a responsabilidade pela situação, gerando conflitos que
agravam o problema e, pior, repercutem muito negativamente na educação dos
filhos e no ambiente familiar.
Diante
desse cenário, o que se pode fazer para superar essa dificuldade sem
comprometer a harmonia e a paz no lar?
Para
enfrentar o problema é fundamental recuperar a serenidade. E essa virá, de
certo modo, quando se vislumbrar “uma luz do fim do túnel”. Enquanto se ficar
repetindo a todo o tempo que não há solução, que tudo está perdido etc.,
cria-se um ambiente de angústia e aflição que paralisa as nossas ações, mingua
as nossas forças, podendo nos afundar num desalento difícil de ser superado.
É
necessário um planejamento financeiro. Trata-se de fazer uma estimativa real
das receitas e, feito isso, elaborar um orçamento, prevendo as despesas. Não
vamos aqui descer a minúcias de como fazer isso. Existam muitos softwares e dicas para se controlar o
orçamento doméstico. Utilizamos em casa há alguns anos o YNAB, que significa
You Need A Budget. Em português, “Você Precisa de um Orçamento”.
Convém ressaltar, porém, não há regras fixas.
Algo que funciona para umas pessoas, para outras não. O fundamental é saber
exatamente o quanto se ganha e, a partir daí, o quanto se pode gastar em cada
item que compõe o orçamento doméstico, esforçando-se para ficar dentro desses
limites.
Acontece
que as pessoas gravemente endividadas não se sentem com forças para elaborar um
orçamento: “não consigo sequer pagar as minhas dívidas, como posso pensar num
orçamento?”, dirão talvez. No entanto, quando falta esse planejamento para a
situação de normalidade, também não se consegue traçar um plano para sair do
vermelho. E se por acaso conseguem de algum modo sair das dívidas, por ausência
de planejamento, cedo ou tarde voltam a se afundar nelas.
Também há
que se tomar muito cuidado ainda com as “soluções mágicas”. Elaborar um
orçamento se esforçar para manter os gastos dentro desses limites custa, para a
grande maioria das pessoas, esforços e sacrifícios. Como nem sempre se está
disposto a percorrer esse árduo caminho, muitos vivem de ilusão: “vou jogar na
megasena e não pensarei mais nisso”. Pior ainda acontece quando, movido pelo
desespero, acredita-se em pessoas ou instituições inescrupulosas, que prometem
eliminar ou reduzir drasticamente as dívidas como que num “passe de mágica”.
De fato,
por vezes a situação será tão crítica que não haverá outro remédio que não
negociar com os credores. E há instituições sérias que auxiliam nisso. No
entanto, mesmo para isso é necessário um planejamento. Do contrário, novamente
se assumem compromissos que não poderão ser honrados, agravando ainda mais a
situação no futuro.
Por fim,
para os casais que passam por esses percalços convém que estejam muito unidos.
As dificuldades podem unir ou separar os cônjuges. Tudo depende da postura que
se assume diante delas. Talvez seja o momento de recordar a si próprio e aos
filhos que “tem mais quem precisa de menos”. Aliás, se pensarmos bem, as melhores
coisas da vida são gratuitas. Quanto custa contemplar um por do sol? Quanto vale
o sorriso afetuoso ou o abraço carinhoso de um filho? Enfim, como pagar o amor
que Deus tem por cada um de nós?
Fábio
Henrique Prado de Toledo é Juiz de Direito em Campinas e Especialista em
Matrimônio e Educação Familiar pela Universitat
Internacional de Catalunya– UIC. E-mail: fabiohptoledo@gmail.com
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