Certa
vez, num aeroporto de um País da Europa, observando o comportamento de um
turista, um amigo me disse: “aquele ali é brasileiro”. Como ele não usava sandálias
havaianas, perguntei como sabia disso. “Veja – explicou – ele vinha caminhando
a procura de algo e, quando chegou ao balcão da locadora de veículos que procurava,
não hesitou em deixar o seu carrinho repleto de malas bem no meio do corredor,
sem sequer cogitar que, com isso, iria dificultar a passagem de outras
pessoas”.
E a cena
se repete aqui com muita frequência. São os motoristas que conversam no celular
enquanto dirigem, de modo que seguem ziguezagueando pelas ruas e avenidas,
colocando em risco a vida de inúmeras pessoas. São, ainda, os pais e as mães
que param em fila dupla enquanto esperam a filha ou o filho saírem do colégio. Ou,
também, é o motorista que não avança no sinal verde porque precisou terminar de
digitar e enviar – bem naquela hora – a mensagem de WhatsApp etc.
Essas
atitudes, ainda que muitas vezes sejam justificadas por uma certa
“espontaneidade” do brasileiro, no fundo tem uma causa perversa. Pouco se
importa que outros também precisam passar, que se está travando o trânsito, ou
colocando a vida própria e alheia em risco. Na verdade, nem se pensa nisso. O
que importa é o que cada um precisa ou deseja de fazer. Os outros, que
esperem... Isso tem um nome: egoísmo.
No caso
de Brumadinho, ainda não há provas conclusivas de que tenha havido omissão ou
negligência dos responsáveis, nem que isso tenha sido a causa do acidente.
Aliás, triste repetição da catástrofe de Mariana! Seria aqui uma simples
replicação daqueles gestos tão corriqueiros de descaso com a pessoa do próximo?
Será que só nos damos conta dessa postura tão arraigada quando as consequências
são terríveis, como ocorreram nessas tragédias?
Não seria
correto concluir, a partir dessas considerações, que o brasileiro é egoísta e
que, por esse motivo, o nosso trânsito é um dos mais violentos do mundo, que os
desastres acontecem aqui com inaceitável frequência, muitas vezes como
consequência do descaso perante milhares de famílias que vivem em situação de
risco. Isso porque tal defeito não é exclusividade nossa. Ao contrário, faz-se
muito encontradiço – ainda que com manifestações diversas – em qualquer local
do planeta.
Noutros
Países, porém, considerados como mais desenvolvidos, há uma melhor educação, no
sentido de respeitar as leis de trânsito e como se portar nos locais públicos
de modo a se promover uma convivência harmônica com os demais. E,
principalmente, uma maior preocupação do Poder Público e das pessoas incumbidas
de atuar em atividades de risco em ser diligentes e rigorosas no cumprimento
das normas de segurança.
Nunca
gostei de comparações como a que fazemos agora, que levam a pensar que o que
fazemos aqui é ruim e que, noutros locais – em especial na Europa Ocidental, na
América do Norte e no Japão – tudo é bom e funciona magnificamente. O
brasileiro em geral já tem uma baixa autoestima. E essa maneira de abordagem
agrava esse problema. No entanto, temos de admitir que enfrentamos um problema
crônico no que tange a ações efetivas de respeito à vida e à pessoa do próximo.
Por outro
lado, porém, ninguém se iguala a nós em compaixão e afeto. É interessante notar
como duas pessoas que sequer se conhecem, ao entabular uma breve conversa num
transporte público, por exemplo, logo abrem suas vidas como se conhecessem há
anos. Com efeito, somos verdadeiramente um povo que tem coração!
Ao
conjugar essas duas tendências opostas, é um grande desafio dos nossos
educadores, em especial os pais e professores, colocar o amor ao próximo também
na inteligência e não apenas no coração. Com isso, seremos mais diligentes em
pensar – e não apenas em sentir – sobre como as nossas ações, grandes ou
pequenas, podem repercutir nas outras pessoas. Isso terá muitas implicações: o
respeito às leis de trânsito; pensar e agir de modo a facilitar a vida dos
demais num local público e; principalmente, a intransigente diligência e cuidado
ao se promover a construção ou manutenção de obras que possam implicar risco à
vida de outros seres humanos.
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