Um tema sempre candente
entre os profissionais da educação, com reflexo direto na atuação dos pais e na
vida familiar, está no uso dos castigos físicos como técnica pedagógica.
Quando me perguntam se
é possível ou aconselhável a palmada na criança em algumas situações, costumo
responder, em especial às mães: “Sim, pode dar umas palmadas...”. Depois,
diante da perplexidade que a resposta causa, acrescento: “porém, antes de
bater, pare, reflita, faça um tempo de meditação, espere um dia ou dois, se for
necessário e, quando estiver totalmente calma, quando estiver ‘zen’, mesmo,
então volte e dê a palmada”.
Diante dessa resposta ,a
reação é quase unânime: “ah, se eu fizer isso, então não vou bater nunca!...”.
Pois é. Essa é a questão de fundo. Na imensa maioria das situações, o castigo
físico não é fruto da reflexão, ou de uma atitude pensada em que se chaga a
conclusão de que aquilo é necessário para educar. Na imensa maioria das vezes,
é fruto da irritação e do nervosismo dos pais.
A autoridade só é
legítima se busca o bem daqueles que lhe estão sujeitos. E isso não somente na
família, mas em toda organização em que haja uma relação de poder. Por exemplo,
um governante possui autoridade, mas somente será legítimo o seu exercício se a
utiliza para promover o bem comum dos cidadãos. Com maior razão, os pais detêm
autoridade em relação aos filhos, mas com o objetivo de educá-los, formá-los e
orientá-los.
Assim, é fundamental
para o bom exercício da autoridade o prestígio dos pais. Todos já tivemos
oportunidade de conviver com uma pessoa sábia e ponderada. Quando ela se
manifesta sobre um determinado assunto, sua opinião tem um peso enorme. Quando
faz um pedido, ainda que de forma muito sutil, esse soa como uma ordem. Assim
são as pessoas que possuem prestígio. Ora, é precisamente disso que necessitam
os pais para exercer a autoridade.
E não é com violência
que os pais adquirem o prestígio com os filhos. Adquirem-no com o espírito de
serviço. Adquirem, também, na firmeza das convicções e na constância com que
atuam para formar os seus filhos. As saudáveis rebeldias dos adolescentes não
podem ser algo que abale as convicções mais profundas dos pais. Ao contrário,
põem-nas a prova precisamente porque eles também querem tê-las, mas, antes de
abraçá-las, precisam testar a sua consistência e profundidade.
A amizade com os filhos
não retira a autoridade, antes a reforça. Coisa muito diferente disso, porém, é
querer colocar-se no mesmo nível, como um “amiguinho” a mais. Não! Podemos e
devemos ser amigos, sem jamais deixar de ser pai ou mãe, que sabem corrigir,
inclusive energicamente, se necessário.
O uso da violência na
educação dos filhos, em grande parte dos casos, é demonstração da fraqueza dos
pais. Com efeito, é mais fácil dar uns gritos do que explicar uma vez e outra
por que se deve agir de uma determinada maneira. É, também, menos incômodo dar
uma palmada do que repetir uma ordem, com energia se necessário, buscando o bem
dos nossos filhos.
Além disso, muitas
vezes não se tem outro recurso para fazer com que as filhas e os filhos
obedeçam. Isso porque, quando se está em casa e no convívio com eles(as) são
mães e pais ausentes, ainda que presentes fisicamente. Fica-se mexendo no
celular, computador, TV etc. e, enquanto não é incomodado(a) por algo dos(as)
filhos(as), esses(as) não existem. Ora, nessa situação, quando as crianças
fazem algo errado, não há outro meio para que façam obedecer que não a ameaça,
o castigo ou a agressão mesmo.
Um grande desafio,
portanto, é que as nossas ordens sejam um “por favor”, e que as crianças
obedeçam. Isso é possível, conquanto que sejamos mães e pais que sabem
construir a autoridade com espírito de serviço, procurando com fortaleza e a
cada instante o bem das nossas filhas e dos nossos filhos.
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