- Mãe, posso assistir
TV agora?
- Agora não – responde
a mãe.
Ao contemplar esse
diálogo, muitas mães e pais ficarão com a impressão de que está incompleto. Ou
a filha irá perguntar: “o que posso fazer, então?” ou a própria mãe irá se
adiantar propondo que façam alguma coisa. Mas será isso necessário? Precisamos
estar todo tempo sugerindo algo que façam?
Para as gerações que
foram criança décadas atrás era impensável esperar que os pais nos dissessem
com que poderíamos nos divertir no tempo livre. Verdadeiramente não era
problema deles. Talvez por isso escalamos árvores perigosamente, andamos sobre
muros, cavalgamos, em suma, fomos protagonistas da nossa própria existência.
Atualmente, colocamos as
filhas e os filhos como centro das atenções nas nossas famílias. Mais ainda,
damos a elas e a eles o direito de esperar de nós, pais, a cada instante, o que
hão de fazer. Como consequência, ficamos estressados. De fato, como não ficar
esgotado quando nos atribuímos um suposto dever de entretê-los(las) o todo
tempo? Com essa postura, são a escola, as atividades extracurriculares e os equipamentos
eletrônicos que nos dão uma trégua. Quando estamos em casa, porém, estão lá
esses “pequenos imperadores” a reclamar a atenção o tempo todo.
Acontece que, com essa
postura tão difundida nos pais de hoje em dia, as nossas filhas e os nossos
filhos crescem acostumados a serem estimulados por alguém ou por algo (TV,
computador, smartphone etc.), de modo que estão sempre esperando que lhes
ofereçam alguma coisa a fazer ou com que se divertir. Com isso, perdem o
protagonismo das próprias vidas.
Muitos dirão que,
atualmente, há mais problemas de segurança, que nas grandes cidades as crianças
e mesmo os jovens não podem se deslocar sozinhos, de modo que isso seria um
fenômeno inevitável. De fato, isso é assim mesmo. Mas a questão de fundo não
são os fatores externos, ou seja, o ambiente em que se desenvolvem, mas a nossa
postura enquanto educadores e, por consequências, as expectativas que
transmitimos a eles.
Assim, podemos morar em
apartamento, ou em casa da qual não podem sair sozinhos por motivo de
segurança, mas, no espaço em que se desenvolvem, a partir de determinada idade,
devem buscar eles próprios com que brincar, como se relacionar com irmãos, com
os amigos e com os vizinhos. Em suma, que não sejam sujeitos passivos, que a
todo o momento aguardam que venha um smartphone, uma TV ou uma mãe trazer
pronto o que podem ou devem fazer.
Quanto à pergunta
daquela criança que fizemos acima, esclareço que, pouco tempo após, ela se
organizou com a irmã e com mais uma amiguinha e montaram um “centro cirúrgico”
na sala de TV, que permaneceu desligada, é claro. A brincadeira perdurou por
horas, sendo substituída por outra e mais outra, fomentando a criatividade,
espírito de iniciativa e, principalmente, uma postura ativa no sentido de
descobrir o mundo e o ambiente em que vivem.
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