quarta-feira, 22 de abril de 2020

Começar e recomeçar


Transcorridos esses dias de isolamento e todo o contexto em que estamos vivendo por conta da pandemia, podemos ter uma certeza: nenhum de nós será o mesmo quando tudo isso passar, como também o mundo não será o mesmo. É certo que a história de cada pessoa e a da humanidade inteira é uma constante evolução. Há ocasiões, porém, em que os acontecimentos se sucedem com uma força avassaladora, capazes de trazer grandes transformações num curto espaço de tempo. Certamente estamos passando por um desses momentos.
É curioso notar como as pessoas reagem de maneira diferente diante das mesmas circunstâncias. Uns crescem com as dificuldades, tornando-se mais pacientes, mais caridosos, mais amáveis, em uma palavra, mais virtuosos. Outros, ao contrário, tornam-se mais azedos, mais impacientes, mais irritadiços, em suma, recrudescem nos vícios. Por que motivo a mesma situação produz resultados tão diferentes nas pessoas? Muitas vezes se trata de membros de uma mesma família, que vivem sob o mesmo teto, que enfrentam as mesmas dificuldades, porém, reagem de modos muito diversos diante delas. Por quê?
Certa vez ouvi de um sábio que Deus age conosco como um habilidoso escultor. Esse trabalha sobre um material inerte, como o mármore ou a madeira. A golpes, umas vezes maiores, outras menores, vai tirando, lixando, moldando, até que se transforme naquela obra magnífica. Só que o nosso Artífice divino trabalha sobre seres livres que somos nós. Por vezes aceitamos os golpes, ora fugimos deles. Eis aqui o motivo pelo qual as mesmas dificuldades ora esculpem um santo, ora um ... insuportável...
Mas a nossa vida é dinâmica. Ora estamos bem, ora surge o desalento. Nesses tempos de confinamento esses altos e baixos, como também os nossos defeitos e as nossas irritações tendem a ter uma ressonância maior nos que estão ao nosso lado, provavelmente trancafiados conosco sob o mesmo teto. Por isso, um grande desafio é o esforço para nos amparamos mutuamente. E isso numa dupla direção.
Primeiro, quando vemos que alguém que está ao nosso lado não está bem, deveríamos ter a delicadeza para perceber que precisa de ajuda. Talvez sugerir que faça algo de que gosta, como assistir a um filme, ler um livro, ficar um instante a sós em algum canto da casa, fazer uns minutos de exercício físico ou mesmo dar um passeio em locais em que não há risco de contágio, por exemplo.
Segundo, quando formos nós que não estamos bem, então que tenhamos a humildade de dizer que precisamos de ajuda, talvez de um tempo para relaxar, fazendo algo que nos agrada. Não nos esqueçamos, porém, que a maior fonte de alegria e de felicidade está em nos ocuparmos dos demais. Assim, se reclamamos um pouco de descanso e de descontração, que isso tenham um único propósito: repor as energias para, depois, servir melhor.
Esse tempo de isolamento é uma ocasião fantástica de crescer para dentro. Nos países de clima frio, em que a neve cobre as plantas, parece que essas morreram durante o inverno. Mas não! Ressurgem a cada primavera. O mesmo pode acontecer agora conosco. Essa forçosa inatividade pode ser ocasião para sermos pessoas melhores. Deixemos que o Artífice divino nos faça aquela bela escultura que nos seus desígnios eternos tem preparado para cada um de nós. E, se repararmos bem, essa obra de arte não é feita apenas de golpes. Há também muitos movimentos suaves que soam como carícias... E todos eles são muito bem ordenados para um mesmo fim: a nossa perfeição. Basta que deixemo-Lo agir.

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