Transcorridos esses
dias de isolamento e todo o contexto em que estamos vivendo por conta da
pandemia, podemos ter uma certeza: nenhum de nós será o mesmo quando tudo isso
passar, como também o mundo não será o mesmo. É certo que a história de cada
pessoa e a da humanidade inteira é uma constante evolução. Há ocasiões, porém,
em que os acontecimentos se sucedem com uma força avassaladora, capazes de
trazer grandes transformações num curto espaço de tempo. Certamente estamos
passando por um desses momentos.
É curioso notar como as
pessoas reagem de maneira diferente diante das mesmas circunstâncias. Uns
crescem com as dificuldades, tornando-se mais pacientes, mais caridosos, mais
amáveis, em uma palavra, mais virtuosos. Outros, ao contrário, tornam-se mais
azedos, mais impacientes, mais irritadiços, em suma, recrudescem nos vícios.
Por que motivo a mesma situação produz resultados tão diferentes nas pessoas?
Muitas vezes se trata de membros de uma mesma família, que vivem sob o mesmo
teto, que enfrentam as mesmas dificuldades, porém, reagem de modos muito
diversos diante delas. Por quê?
Certa vez ouvi de um
sábio que Deus age conosco como um habilidoso escultor. Esse trabalha sobre um
material inerte, como o mármore ou a madeira. A golpes, umas vezes maiores,
outras menores, vai tirando, lixando, moldando, até que se transforme naquela
obra magnífica. Só que o nosso Artífice divino trabalha sobre seres livres que
somos nós. Por vezes aceitamos os golpes, ora fugimos deles. Eis aqui o motivo
pelo qual as mesmas dificuldades ora esculpem um santo, ora um ...
insuportável...
Mas a nossa vida é
dinâmica. Ora estamos bem, ora surge o desalento. Nesses tempos de confinamento
esses altos e baixos, como também os nossos defeitos e as nossas irritações
tendem a ter uma ressonância maior nos que estão ao nosso lado, provavelmente
trancafiados conosco sob o mesmo teto. Por isso, um grande desafio é o esforço
para nos amparamos mutuamente. E isso numa dupla direção.
Primeiro, quando vemos
que alguém que está ao nosso lado não está bem, deveríamos ter a delicadeza
para perceber que precisa de ajuda. Talvez sugerir que faça algo de que gosta,
como assistir a um filme, ler um livro, ficar um instante a sós em algum canto
da casa, fazer uns minutos de exercício físico ou mesmo dar um passeio em
locais em que não há risco de contágio, por exemplo.
Segundo, quando formos
nós que não estamos bem, então que tenhamos a humildade de dizer que precisamos
de ajuda, talvez de um tempo para relaxar, fazendo algo que nos agrada. Não nos
esqueçamos, porém, que a maior fonte de alegria e de felicidade está em nos
ocuparmos dos demais. Assim, se reclamamos um pouco de descanso e de
descontração, que isso tenham um único propósito: repor as energias para,
depois, servir melhor.
Esse tempo de
isolamento é uma ocasião fantástica de crescer para dentro. Nos países de clima
frio, em que a neve cobre as plantas, parece que essas morreram durante o
inverno. Mas não! Ressurgem a cada primavera. O mesmo pode acontecer agora
conosco. Essa forçosa inatividade pode ser ocasião para sermos pessoas
melhores. Deixemos que o Artífice divino nos faça aquela bela escultura que nos
seus desígnios eternos tem preparado para cada um de nós. E, se repararmos bem,
essa obra de arte não é feita apenas de golpes. Há também muitos movimentos
suaves que soam como carícias... E todos eles são muito bem ordenados para um
mesmo fim: a nossa perfeição. Basta que deixemo-Lo agir.
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