Há
aproximadamente dois anos manifestamos, nesta coluna, a preocupação com o
aumento das agressões físicas ou verbais recorrentes nas escolas. Naquela
oportunidade abordamos o problema do bullying
sob a ótica do agressor. E sustentamos que a sua agressividade e reiterada
falta de respeito com pode ter como causa uma baixa autoestima, ou mesmo um
contexto familiar e social hostil, que os leva a descarregar nos mais fracos as
próprias desventuras e frustrações.
Também
apontamos, como possíveis soluções, que se fomente a autoestima e, a partir
daí, o respeito pelo semelhante. No entanto, pode ocorrer que apesar de se
criar um ambiente acolhedor e respeitoso, ainda assim alguns s insistam nessa
prática perniciosa ao convívio social. Nesse caso, se haverá de ministrar um
remédio amargo, mas muitas vezes eficaz, que é a punição.
No
entanto, hoje gostaria de analisar o problema sob o enfoque da vítima do bullying. Não há como traçar um perfil completo
dessa. Mas há alguns fatores que deixam os garotos ou as meninas mais
vulneráveis. E um deles é a debilidade – não propriamente física – que os
impedem de se impor e exigir o respeito que devido em cada situação. E talvez as
características e os hábitos da família moderna fomentem isso. Vejamos.
Nas
famílias numerosas de outrora os filhos eram como que treinados naturalmente a
se fortalecerem no convívio social. Com efeito, desde cedo tinham de aprender a
disputar um brinquedo, um lugar na mesa ou na sala. Sofriam pressão dos irmãos,
ao mesmo tempo em que a faziam. Com isso, o próprio lar era um aprendizado
constante de como se impor perante os demais e exigir o respeito que lhe é
devido.
Atualmente,
são muito frequentes as famílias de filhos únicos. E, como não tem com quem
brincar, o computador passa a ser o “irmãozinho”. No entanto, o computador é
extremamente dócil, não contraria os gostos pessoais, está sempre disponível
para que se faça dele o que quiser, não faz pressão, não disputa, enfim, não
impõe resistência alguma. Acontece que a criança assim formada estará muito
pouco preparada para o convívio social.
E
se, além disso, essa criança ou esse adolescente tiver a desgraça de ter pais superprotetores,
então a situação será ainda mais grave. Isso porque essa atitude do pai ou da mãe
anula os mecanismos de defesa, de modo que o único recurso passa a ser gritar
por um deles diante da menor ameaça. No entanto, isso nem sempre será possível
em suas vidas.
A
propósito, permita-me o leitor fazer um parêntesis para dizer que um dia gostaria
de ver uma tese científica que analise o aumento das demandas judiciais na
proporção da educação ministrada. É que pouco se estimula os jovens e as
crianças, seja no ambiente familiar seja no escolar, a resolverem por si sós os
atritos. Fomenta-se que diante do menor desentendimento a questão seja levada
ao professor, à direção ou aos pais.
Com
isso, promove-se apenas a heterocomposição, que consiste em recorrer a um
terceiro para solucionar um problema, em detrimento da autocomposição, que é
aquela que os próprios interessados buscam uma solução. Deixo, então, a
pergunta: essas pessoas assim educadas, quando atingirem a fase adulta e não
tiverem mais os pais e professores para solucionar os seus conflitos, como os
resolverão? Buscarão a solução por meio de demandas judiciais?
O bullying é um problema complexo, que não
comporta análise simplista, nem há soluções mágicas. Mas um meio bem eficiente
para combatê-lo é formar filhos e alunos suficientemente fortes para enfrentar
esse e outros desafios que o mundo lhes trará. Não nos referimos,
evidentemente, a uma força física capaz de “dar o troco” às agressões. A
violência nunca é o melhor caminho. Trata-se de transmitir aos nossos filhos e
alunos um sentido profundo e verdadeiro para as suas vidas. Isso lhes dará a
segurança e a fortaleza para se portarem em cada ambiente com o destemor de
quem sabe de onde vem e para onde vai. E esse senhorio de si é precisamente o
que mais afugenta a atitude covarde e insana dos agressores.
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