Outro dia resolvemos assistir um
capítulo de uma telenovela, pois, como nos haviam contado, parecia ser
interessante por retratar, de uma forma bem humorada, a vida das empregadas
domésticas e os conflitos que surgem com suas patroas. Confesso que os poucos
minutos que perdemos com isso não nos agradou. Ficou a impressão de que cada
vez conseguem piorar um pouco nas baixarias. Além disso, como em casa não se
formou o hábito de assistir esses programas, em pouco tempo o protesto foi geral
para mudar de canal, felizmente... Apesar disso, penso que o tema merece a
nossa reflexão.
Há quem sustente que essa
profissão deverá desaparecer com o passar dos anos, pois essa força de trabalho
seria absorvida pela produção industrial e prestação de serviços. Também o
avanço tecnológico viria a dispensar essa atividade, substituindo-a por
eletrodomésticos que facilitem as tarefas no lar. Além disso, – sustentam ainda
– trata-se de um trabalho pouco digno, na medida em que se dedica simplesmente
a proporcionar a outras pessoas maior comodidade e conforto em suas casas, o
que não seria concebível num País com maior desenvolvimento social e diminuição
das desigualdades.
Deixando de lado as previsões futuristas
sobre a profissão, que não tenho condições de avaliar, discordo com veemência
dos que sustentam ser esse trabalho menos digno. Todo trabalho honesto é digno
e não faz o menor sentido “classificar” as pessoas pelo seu trabalho, como se
umas ocupações fossem mais nobres que as outras.
A profissão de empregada
doméstica não é em si indigna. Bem ao contrário, quando exercida com amor e
tratada com respeito se insere dentre as mais nobres. Mas o que podemos fazer
em casa e com os nossos filhos para que elas tenham o reconhecimento e a
consideração que merecem?
Penso que a melhor maneira de
estabelecer uma relação saudável com uma pessoa que convive em nossa casa,
participando muito diretamente da nossa intimidade, é trata-la como um membro a
mais da família. Isso não quer dizer que não se deve exigir delas que trabalhem
com competência, dedicação e sentido de responsabilidade. Mas há que se cuidar
muito da forma, tratando-as com esmerada educação e profundo respeito. E,
sobretudo, exigir que os filhos façam o mesmo.
Além disso, devemos agir com
extrema lealdade, pagando salários justos, que lhes permitam prover às despesas
próprias e da família com dignidade, pagando pontualmente os encargos sociais e
todos os direitos trabalhistas. Nesse campo, ser justo significa muitas vezes
ir além do que determina a Lei.
Certa vez soube que a empregada
de uma senhora idosa e viúva lhe propôs trabalhar também aos sábados, pois com
isso a faria companhia e poderia ter uma renda extra, que lhe era essencial
naquele momento. Em resposta a essa proposta, disse a boa patroa: “Olha, você
tem marido e filhos que precisam muito de você no final de semana. Vou te dar o
aumento de que precisa, mas o trabalho que teria comigo aos sábados, peço que
os dedique a eles, com muito carinho”. Penso que isso é saber esmerar-se na
justiça numa relação de trabalho franca e amistosa.
Certa vez presenciei uma cena que
me ficou muito marcada e serve de lição sobre como reconhecer, na prática e não
apenas em teoria, a imensa dignidade de cada pessoa. Aconteceu que a empregada,
por descuido, quebrou um copo de cristal muito fino. A filha mais nova correu a
contar ao pai a tragédia. Esse, porém, respondeu serenamente: “Filha, não tem
problema algum. Estou certo de que foi sem querer. Porém, por favor, diga à
Maria que embrulhe muito bem os cacos que restaram em papel de jornal, para não
que não aconteça que, quando o lixeiro passar, o saco de lixo se romper e
machuca-lo”.
Para aquele bom homem importa
muito pouco o valor material do objeto, pois um valor infinitamente maior têm
as pessoas que os cercam. Essas sim dotadas de uma imensa dignidade que emana
da sua condição de filhas e de filhos de Deus.
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