Muito se fez para que fosse
aprovada a chamada Lei da Ficha Limpa e, depois, forte tem sido a pressão para
que seja aplicada o quanto antes e com rigor, de modo a manter longe dos
pleitos eleitorais os políticos já condenados pela Justiça. E se tem visto
nisso uma espécie de panaceia para a nossa democracia. Com efeito, pensa-se que,
obstando os maus candidatos de concorrer, estaria assegurada a lisura na
Administração Pública e no Poder Legislativo. Mas será que essa Lei terá esse
alcance?
Confesso que vejo com preocupação
o excesso de normas tendentes a regulamentar o processo eleitoral. Com o
objetivo, ao menos explícito, de assegurar a ética nas eleições e, depois, no
exercício do mandato, tem-se editado uma infinidade de Leis, depois
regulamentadas pelo Tribunal Superior Eleitoral, dispondo meticulosamente o que
se pode e o que não se pode fazer durante o certame. No entanto, tenho que essa
tendência contém, no fundo, certa desconfiança no bom senso do eleitor. É que se
os cidadãos se empenhassem mais seriamente em escolher bem os candidatos, não
precisaria a Justiça excluir da disputa os maus políticos. Os partidos deveriam
fazê-lo e, se não o fizesse, os eleitores tanto menos deveriam elegê-los.
Não estamos a sustentar a desnecessidade
da Lei. Contudo, ela não deveria ser encarada como o único nem o principal
instrumento para assegurar a ética na política. É necessário fomentar uma
efetiva e eficaz participação dos cidadãos na escolha dos representantes e,
também, em todos os assuntos que interfiram no bairro em que vivem, na cidade,
no Estado e no País.
Nenhum cidadão consciente pode
deixar de participar ativamente na escolha daqueles que decidirão os rumos da
nossa sociedade. Trata-se de uma obrigação grave cuja omissão dos bons
contribui para que pessoas inescrupulosas galguem cargos que jamais deveriam
ocupar.
Quando cheguei a São Paulo para
cursar a Faculdade de Direito, vindo de uma pequena e pacata cidade do
interior, algo que muito me impressionou negativamente foi notar como algumas
praças da Capital paulista, em si belas e com grande valor arquitetônico, tornaram-se
feias por serem mal frequentadas por delinquentes, afugentando delas as
famílias e as crianças. Algo de semelhante ocorre na política. Se bons se
omitem, os maus se apoderam dela com seus propósitos inescrupulosos.
O voto é uma decisão muito séria.
Deveria ser precedida de uma intensa e cuidadosa investigação. E não se trata
apenas de aferir a idoneidade do candidato. Isso já seria muito, mas é pouco. É
preciso também aferir a capacidade para ocupar o cargo que pretende galgar.
Talvez nos questionemos como fazer esse julgamento. E a resposta é que se há de
fazer uma análise das propostas, mas principalmente, o que fez esse candidato
até então.
Certa vez participei de um
congresso em Valência, na Espanha, ao qual foram convidados a Prefeita e o que
faz às vezes de Governador daquela província. E o que me causou maior impressão
foi notar que não foram discursos vazios. Ambos se empenharam em fazer uma
séria prestação de contas sobre o que vinham fazendo no exercício do mandato em
relação ao assunto que se tratava no evento.
Muitos cidadãos talvez se vejam,
por vezes, como que sem escolha, ou na contingência de escolher o menos pior.
Ora, se isso acontece é, também, porque os bons cidadãos, que têm vocação
profissional para isso, estão se omitido da obrigação também grave de se filiar
a partidos e concorrer aos cargos eletivos.
A maturidade da democracia não se
alcança com boas leis, nem com rigor do Judiciário em punir os maus políticos.
Isso já seria um avanço. Porém, somente se constrói um verdadeiro Estado
democrático se os cidadãos se engajarem de verdade em escolher e exigir dos
seus representantes que honrem o mandato que lhes é confiado. Sendo assim, caro
eleitor, antes de exigir dos outros e das instituições, cumpre a cada um de nós
nos examinarmos o que temos feito concretamente para esse fim.
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