Tive a grata satisfação de
assistir, nas arquibancadas do Estádio do Pacaembu, a gloriosa conquista da
Copa Libertadores pelo Corinthians. Estar presente com os filhos num campo de
futebol, além de ser uma proeza um tanto desafiadora, pode ser ocasião para
tirarmos interessantes reflexões. Com efeito, nessas concentrações
multitudinárias, em que a paixão aflora vivamente nas pessoas, podem surgir
elementos para conhecermos melhor o ser humano, os seus sonhos, o seu modo de
ser, enfim, os seus anseios mais íntimos e profundos.
Inicialmente, cada um se dirige
em busca do melhor local para assistir ao espetáculo. O outro, nesse momento, é
apenas mais um torcedor, alguém que, em que pese a simpatia que desperta o fato
de ter algo em comum, não representa nada ou quase nada para nós. Por vezes, é
até um concorrente que nos impede de conseguir um assento melhor.
Quando os ânimos vão se
acirrando, as barreiras que criamos e que nos mantinham confinados em nós
mesmos vão cedendo, e então já entabulamos conversas amistosas e cheias de
esperança com quem nunca havíamos visto antes. E eis que: “GOOOOOOL!”. E aí não
há mais obstáculo algum. Abraçam-se, choram, cumprimentam-se efusivamente. E, o
que é mais interessante: ninguém se incomoda que o vejam extravasar em lágrimas
aquilo que até então mantínhamos bem envolvido com uma forte armadura em nosso
interior.
E a festa segue... Levanta-se a
taça há mais de um século esperada, a euforia continua... Porém, pouco a pouco,
o outro vai se tornando o mesmo ser longínquo e distante, portador de um grande
mistério dentro de si, onde nos é impossível ou muito difícil penetrar...
Talvez agora possamos dar asas à
imaginação e considerar como seria aquele espetáculo se fôssemos o único
torcedor naquele estádio. Penso que ainda que a vitória do nosso time fosse
mais brilhante e arrasadora, não teria a menor graça. Isso talvez nos remeta a
uma constatação: tudo aquilo que consideramos bom para nós precisa ser
compartilhado com outras pessoas. Do contrário, ao pretendermos encerrar em nós
mesmos qualquer benefício, pelo simples fato de o utilizarmos egoisticamente,
aquilo que era um bem, deteriora-se e morre.
É inegável que nessas
elucubrações sobre uma partida de futebol poderíamos encontrar aspectos
negativos, também de certo modo arraigados na natureza humana. Podemos
mencionar, por exemplo, a hostilidade com o adversário e intolerância que
muitas vezes se manifesta com aqueles que não possuem a mesma preferência. Mas
centremo-nos, hoje, nos aspectos positivos. Afinal, o Timão é campeão!
E dentre esses bons sentimentos
que vislumbramos estampados no coração de cada homem e de cada mulher é o de
querer propagar e difundir os amores que trazem guardados nos seus corações.
Aflora evidente aqui que o outro é, para cada um de nós, uma oportunidade
imperdível de exteriorizar aquilo que é mais marcante em cada ser humano: o
amor.
É certo que esse amor não é só
sentimento. Ainda que esse seja, muitas vezes, um importante meio para torna-lo
conhecido, o amor deve assumir contornos mais racionais. E então gera
compromissos sólidos e duradouros, que nos move a buscar o bem do outro.
Uma grande lição que talvez
pudéssemos extrair é que o amor e a alegria somente são verdadeiros quando são comunicados
àqueles que nos estão próximos: esposa, marido, filhos, pais, amigos, colegas
de trabalho e todos com quem convivemos. Isso se traduzirá, muitas vezes, em
pequenos gestos que demonstram nosso apreço. E, para fazê-lo, não é necessário
esperarmos por grandes emoções. Tampouco se há de aguardar 102 anos... Podermos
fazer com que seja algo constante e perene em nossas vidas, como o bater de um
coração eternamente enamorado.
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