Há poucas semanas presenciei uma
animada conversa de uns jovens. Era a véspera do início de uma viagem de
bicicleta que faríamos pelo Caminho da Fé. Seus semblantes alegres estampavam
expectativa e ansiedade. É muito interessante notar como, agitados, narravam
suas peripécias em passeios anteriores por aquelas terras e expunham seus
planos para os dias seguintes. Como é bom sonhar! E como as expectativas com o
porvir movem as pessoas, sobretudo os mais jovens!
No entanto, nossos sonhos
e expectativas não podem permanecer apenas na imaginação. Hão de ser
transformados em projetos de vida que nos movam a lutar por algo que valha a
pena.
Talvez grande parte da
desesperança em que estão imersas muitas pessoas hoje em dia decorra da ausência
de um projeto claro de vida, de não saber aonde se quer chegar. É claro que não
temos domínio sobre todos os fatores que influem em nossas vidas, mas muito do
que viremos a ser no futuro depende das ações e decisões que tomamos hoje.
Se fizermos uma enquete entre os
meninos, perguntando o que gostariam de ser no futuro, penso que grande parte
gostaria de ser jogador de futebol, rico e famoso. E, quanto às meninas, talvez
se espelhem em astros da música, da moda ou do cinema. Mas serão esses sonhos,
em grande parte dos casos, algo real, ou melhor, realizável? Mais ainda, se
atingidos trariam, por si só, a tão almejada felicidade?
Lembro-me de que há anos
atrás passava uma temporada numa fazenda em Goiás. A esposa do empregado era
uma mãe e dona de casa extremamente zelosa. As panelas e utensílios domésticos,
ainda que muito simples, eram mantidos sempre muito limpos e ordenados. E ela
preparava um frango caipira com polenta simplesmente inigualável... Certa vez,
numa conversa descontraída após o almoço, alguém lançou a indagação do que
faria se soubesse que o fim do mundo está próximo. Diante dessa questão aquela
boa mulher fez a seguinte ponderação à minha irmã: “Nossa, se o soubesse que o
fim está próximo, você deveria se apressar em se casar e ter filhos...”.
Por certo essa ponderação chocou
muito com a mentalidade hedonista já reinante naquela época e tanto mais nos
dias atuais. Apesar disso, para aquela esposa e mãe dedicada casar e ter filhos
era o conceito que ela tinha de aproveitar bem a vida!
Talvez sejam bons modelos
que faltem aos jovens de hoje. Com efeito, pouquíssimos chegarão a ser astros
do esporte, da música ou do cinema. No entanto, absolutamente todos são
chamados a exercer uma profissão honrada e a ser muito felizes nos caminhos que
lhes estão reservados.
Os filhos esperam dos pais, como
em geral os mais jovens esperam dos mais velhos, exemplos de que a vida vale a
pena, encarnados em uma existência concreta. Mas
esperam modelos de realização e felicidade reais. Isso porque, não raras vezes,
os ídolos forjados pela mídia desandam pelo mundo das drogas, do alcoolismo,
com sucessivos relacionamentos fracassados. Tudo isso é marca característica de
um vazio interior, que o aparente sucesso exterior não consegue ocultar por
muito tempo. “Meus heróis morreram de overdose...”,
canta melancolicamente o Cazuza.
Passada a euforia inicial,
aqueles jovens ciclistas empreenderam valentemente o caminho. Foram muitos
momentos felizes, permeados de esforços, quedas e recomeços. Não faltaram
contrariedades e privações, todas superadas por quem tem um ideal e sabe aonde
quer chegar. E é curioso notar que, nas dúvidas e encruzilhadas, quase sempre
se reportavam aos mais velhos sobre o que fazer e que trajeto seguir.
Temos uma enorme
responsabilidade com as gerações mais jovens, de sermos para elas farol e
modelo. Não é necessário, para isso, que sejamos ídolos, mas que sejamos
felizes. Trata-se de sermos homens e mulheres que têm uma missão e que,
precisamente por encontrá-la, levamos uma vida coerente com as nossas
convicções. Assim, seremos sal e luz, que dá sabor e que ilumina os que se
aventuram a trilhar os caminhos deste mundo, com fé, esperança e amor no
coração.
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