No último sábado,
dia 22 de setembro, tive a grata satisfação de dar uma palestra no Colégio
Nautas, em Campinas, que teve como tema a Obediência dos filhos e a autoridade
dos pais. Como o assunto está muito relacionado com o que costumamos abordar
nesta coluna, gostaria de compartilhá-lo também com o leitor.
Não é possível
falar em obediência sem uma indagação inicial sobre o sentido da vida: O que
cada um de nós está fazendo nesse breve tempo que temos do nosso nascimento até
a partida deste mundo? Mais ainda, há um sentido para a existência, ou ela é
uma simples sucessão de fatos no tempo, sem um ponto de partida nem de chegada?
Acredito
sinceramente que nenhum dos seis bilhões de seres humanos que povoam atualmente
o planeta foi lançado à existência por acaso e à própria sorte. Todas as
mulheres e todos os homens que vieram, que estão e que virão a esse mundo têm
uma missão a desempenhar e a sua realização e a sua felicidade estão
precisamente em encontra-la e segui-la.
Essas considerações
nos remetem para um bem superior e eterno que há de mover a nossa inteligência
e a nossa vontade. Assim, a busca do bem próprio e alheio é o que dá sentido a
nossas vidas e há de pautar o nosso caminhar.
Mas o que é esse bem?
E como encontrá-lo e buscá-lo em cada circunstância das nossas vidas? Como
saberemos escolher o melhor caminho em cada momento? Penso que o primeiro passo
é querer. Mas isso não basta, pois muitas vezes não sabemos onde está a direção
correta. Bem por isso que sempre será necessário que haja autoridade e
obediência.
Essa consideração
nos revela a enorme responsabilidade que implica o fato de se ter autoridade
sobre alguém. E isso nos vários âmbitos da sociedade. O Administrador Público,
o Legislador e o Magistrado somente possuem uma autoridade legítima se a usam
para o bem daqueles que lhes estão sujeitos. Nesse sentido, tanto age mal o que
possui o poder e não o exerce para o bem, como o que deixa de exercê-lo,
permitindo que da sua preguiçosa omissão impere o mal nas relações humanas.
Mas há uma
autoridade que possui especial transcendência, que é aquela que se exerce em
relação aos seres humanos ainda em fase de formação. Refiro-me particularmente
aos pais e professores. É que as omissões e os desvios de autoridade nessa fase
podem trazer consequências muito graves, difíceis de serem revertidas.
Mas além de se
exercer autoridade, é necessário querer obedecer. Não soa muito simpático falar
em obediência atualmente. Pensa-se que quando obedecemos não somos livres. No entanto,
isso não é verdade. Alguém ousaria dizer que um guia que nos orienta numa
escalada, dizendo “vá por aqui”, “não pise ali”, “cuidado com aquela pedra” nos
tolhe a liberdade? Ora, são precisamente as suas instruções que nos mantém
vivos e seguros, de modo que as obedecemos com gosto e prontidão.
Lembro-me de um
acontecimento da minha infância. Estava com meu pai numa cidade grande. Era
dezembro e fazíamos as compras para o Natal. Num dado momento, soltei as mãos
dele e me distraí, contemplando um brinquedo. E eis que logo me senti perdido. Talvez
o leitor se lembre do que sentiu em situação semelhante: a angústia de se haver
perdido o que nos dá segurança e então andamos de um lado a outro, numa ansiosa
procura que parece interminável...
De certo modo é
assim que perambulam por esta vida aqueles que ainda não sabem, com toda
segurança, de onde vieram e para onde caminham. Estão perdidos e em busca de
algo que lhes dê um sentido para viver. Mas só o amor verdadeiro pode aplacar
todas as ânsias de felicidade e de eternidade do coração humano. Para encontra-lo,
é preciso que aqueles que detêm autoridade saibam orientar, mas é fundamental que
todos nós saibamos obedecer, livremente e por amor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário