Tudo parecia muito estranho e
confuso. O pai saiu desnorteado rumo à escola do filho. O curioso é que o
garoto não o acompanhava no banco ao lado do carro. Chegando ao colégio, viu
uma grande corrente humana. Era formada por pais e professores que, de mãos
dadas, formavam um enorme círculo que dava uma volta abraçando todo o prédio.
Seus rostos eram apreensivos e, cabisbaixos, pareciam cada um fazer uma prece
com insistente súplica.
E eis que de repente se fez ouvir
vozes de jovens entoando uma canção, cujo volume crescente denunciava que se
aproximavam. Após alguns segundos já se podia entender:
Somos os
filhos da revolução
Somos
burgueses sem religião
Somos o
futuro da nação
Geração
Coca-Cola...
Seus passos decididos, os brados fortes
com que cantavam e os olhos fixos no porvir denunciavam que estavam muito
resolutos a protestar com veemência contra algo, que talvez eles mesmos não
soubessem o que fosse. Porém, ao ver seus pais e professores naquela postura o
canto cessou e os seus passos se tornaram lentos e vacilantes.
Após uns minutos de silêncio o
filho e o aluno passaram por sob os braços dos pais e professores, dirigiram-se
ao pé do mastro da bandeira nacional e, em voz alta, começaram a falar em alta
voz:
- Até que enfim resolveram se unir!
Espero que não seja tarde! Bem se pode notar que precisam de ajuda... Sabe o
que mais nos irrita? É vê-los tão medrosos! Por que têm medo de nós? Podemos
sentir suas mãos trêmulas com a nossa aproximação, como se fôssemos umas feras
que vocês não conseguem domar...
Depois de um breve olhar ao
redor, como que querendo conhecer os ouvintes, prosseguiram:
- Sabem o motivo da nossa
rebeldia? É que queríamos testar a profundidade e a consistência das suas
convicções. Não queríamos que cedessem aos nossos caprichos. Pior, não
queríamos tão vacilantes, tão adolescentes... Vocês não precisam imitar nossos
trajes, nossa linguagem, nossa gíria para se aproximarem de nós. Queremos pais
que sejam pais e professores que sejam professores. Só queríamos vê-los alegres
e realizados. Como podem nos inspirar com caras feias, olhar cabisbaixo e ares
de derrotados?!
Agora num tom mais sereno e
penetrante, prosseguem:
- Em nome de um suposto respeito
vocês querem nos ensinar que não há uma só verdade absoluta, que tudo depende
do ponto de vista. “Tudo é tão relativo!”, discursam com frequência... Se tudo
é relativo que razões absolutas nos mostram para sermos bons? E esse pudor que
sentem ao falar de Deus! Também Deus é relativo e tem a cor e a forma que cada
um queira Lhe dar? Por que não nos falam de sentido da vida, de amor, de vida
eterna?!
Dito isso, entraram na escola. Os
demais os acompanharam e tomaram seus lugares na sala de aula. Os professores
nunca tiveram uma turma tão atenta. Aguardavam ansiosamente o que lhes diria. Após
um suspiro, começou o mestre:
- Lembram-se de quando decidimos
retirar o crucifixo aqui da sala? Vejam que suas marcas na pintura ainda
permanecem na parede... As gerações que nos antecederam conviveram com os
símbolos religiosos, porém, muitas vezes cederam à hipocrisia no relacionamento
com Deus. Usavam o crucifixo, participavam de celebrações, deixavam a Bíblia
exposta em locais visíveis, mas não viviam de maneira coerente com a sua fé.
Nós, porém, em vez de combatermos a hipocrisia, tiramos Deus das suas vidas...
Todos olhavam com tristeza a
parede vazia sobre a cabeça do mestre. É como se aquele vazio fosse reflexo do
enorme vazio que cada um trazia em seu coração. Mas eis que uma luz se acendeu
onde estava o Crucificado. E os que queriam, com um aceno, uma parte daquela
luz se desprendia da parede e vinha brilhar o próprio peito. E, com ela, uma
alegria inundava as pessoas e o ambiente.
Também os pais foram convidados a
participar desse momento de júbilo. Entraram e viram o que havia perdido e que agora
foi encontrado. Então selaram um pacto com os professores de não deixar apagar
aquela luz, por amor a seus filhos, por respeito a seus alunos.
De repente soou o alarme. São
6:00 horas da manhã. Acordei confuso. E enquanto caminhava para o banheiro balbuciei:
“Foi só um sonho!”.
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