O Papa Bento XVI proclamou
recentemente um Ano da Fé, que terá início na próxima quinta-feira, dia 11 de
Outubro de 2012, terminando em 24 de Novembro de 2013. E, como preparação e
proclamação, redigiu uma carta apostólica intitulada Porta Fidei (Porta da Fé).
O documento merece ser lido e
meditado. Mas não é nosso propósito comentá-lo. Desejo apenas ater-me a um
aspecto que nos parece relevante na educação dos filhos e alunos. Refiro-me ao
ponto em que o Papa conclama a todos para intensificar “a reflexão sobre a fé”
e a confessá-la, dentre outros ambientes, “nas nossas casas e no meio das
nossas famílias”.
Com profundo respeito aos que
pensam diferente, acredito que os pais têm o dever de educar os filhos na fé.
Essa criatura que vem ao mundo nasce com o direito de que seus genitores, ao
mesmo tempo em que lhe transmitem a vida, saibam também dar um sentido profundo
e eterno à sua existência. E isso não é relativo nem depende do ponto de vista,
ainda que alguns, mais por conveniência do que por convicção, insistam em
negar.
Outro dia eu andava a meditar
sobre como argumentar com os relativistas sobre as verdades eternas. A minha
filha, então com nove anos, percebendo que o pai parecia um pouco distante, me
perguntou: “Pai, você está preocupado com alguma coisa?”. Então disse a ela:
“Há pessoas que acreditam em Deus e há outras que não. E como dizer às que não
acreditam que elas não têm razão?”. Ela pensou um pouco e depois concluiu:
“Bem, diga a elas que Deus não deixará de existir somente porque elas não
acreditam”.
Transmitir a fé aos filhos não
lhes tolhe a liberdade se nos ocupamos de lhes expor não apenas no que cremos,
mas, principalmente, por que cremos. A fé não é contrária à razão. Como bem
expõe o Santo Padre: “não é possível haver qualquer conflito entre fé e ciência
autêntica, porque ambas, embora por caminhos diferentes, tendem para a verdade”.
Além disso, ao transmitirmos a fé
aos filhos, temos de fazê-lo com profundo respeito à liberdade das suas
consciências. Assim, não é possível impor nada, mas simplesmente propor. Aliás,
como bem expõe o Santo Padre no final da sua carta, a fé nos move para o amor.
E ninguém pode ser forçado a amar. Com efeito, ou se ama livremente ou não se
ama. Nesse sentido, a catequese que se há de levar a cabo no seio das famílias
é aquela que promove a transmissão dos conhecimentos acerca de Deus e da
natureza humana. Mas esse conhecimento não será jamais um fim em si. Bem ao
contrário, há de mover nossos filhos a amá-Lo e a amar aqueles que Ele ama.
Certa vez uma mãe entrou numa
igreja para fazer uns minutos de oração. A filha de cinco anos estava com ela.
Então a mãe disse: “Filha, aqui você pode conversar com Deus. Você pode pedir a
Ele o que quiser”. A criança se ajoelhou e ficou uns instantes em silêncio.
Depois saíram. No caminho, pegaram o irmão mais velho, que se encontrava noutro
local. Então menina disse a ele: “Pedro, eu fui rezar com a mamãe”. “Ah é?! E o
que você pediu pra Ele?”, indagou o irmão. Nesse momento a mãe estava certa de
que ela havia pedido para ganhar uma nova boneca. Porém, para surpresa de todos,
ela respondeu: “Eu pedi para ganhar um irmãozinho”. A mãe ficou perplexa. E
mais surpresos ainda ficaram quando, onze meses após, ela já posava para uma
fotografia na maternidade com o irmãozinho no colo...
Penso que é nesse ambiente que o
Papa nos convida a viver a fé em nossas casas e no seio das nossas famílias.
Com naturalidade, respeito e, sobretudo, comunicando o amor de quem acredita na
vida.
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