O Ministério da Saúde lançou
na semana passada uma campanha nas redes sociais que contava com o slogan: "Eu sou feliz sendo
prostituta". Posteriormente, houve um recuo daquele órgão público e a
publicação foi retirada. Apesar disso, penso que o tema merece a nossa
reflexão.
Há uma forte tendência em
nosso tempo de se eliminar todo tipo de discriminação. E isso é muito bom. Porém,
a pretexto de não se discriminar, tem-se sustentado que determinadas condutas,
intrinsecamente más, seriam eticamente corretas. Exemplo disso é o que se
tentou fazer com essa campanha.
No entanto, para não se
fazer injusta discriminação não é necessário – nem possível – sustentar que o
erro tornou-se correto, mas basta saber distinguir o erro da pessoa que erra.
A prostituta mantém absolutamente
intocável a sua dignidade. Bem por isso não pode ser tratada com falta de
respeito, não pode ser proibida de frequentar determinados lugares em
decorrência da sua condição, enfim, tem os mesmos direitos e os mesmos deveres
que os demais cidadãos.
E, para que essa imensa
dignidade que possui – por ser pessoa humana – seja devidamente respeitada, é
necessário que todos saibamos ter esses olhos para ver no próximo um ser
humano, seja qual for a sua condição: presidiário, trabalhador, prostituta,
celibatário, casado, solteiro, divorciado, branco, negro, amarelo, heterossexual,
homossexual etc. Isso não nos impede, porém, de chamarmos o erro de erro, com
valentia e coragem se necessário.
No caso da prostituição, para
a formação de um juízo ético, convém analisar os fundamentos e os fins do ato
sexual. O sexo não é para o ser humano uma simples necessidade fisiológica, por
mais prazeroso que seja. Todo animal tem o seu habitat natural e tem a sexualidade voltada à preservação da
espécie. No ser humano acontece algo substancialmente diferente. O habitat natural da espécie humana é a
família. E os “filhotes” dessa espécie tem a necessidade de um pai e de uma mãe
que, mais que o amarem, que se amem entre si, precisamente porque o sentido das
suas vidas é o amor.
Nesse contexto, a
sexualidade humana está indissociavelmente vinculada ao amor entre um homem e
uma mulher. Mais ainda, como esse amor é vida e fonte de vida, precisa estar
selado com um compromisso que assegure a estabilidade desse habitat natural da espécie humana. Bem
por isso que já se disse que o leito conjugal é um altar de cujo amor fecundo
vidas humanas – dotadas de uma dignidade infinita – são chamadas ao imenso
privilégio da existência.
Assim, “dar-se” no ato
sexual por dinheiro ou procurar um parceiro ou uma parceira simplesmente para
satisfação de uma “necessidade fisiológica” é transformar algo que é imensamente
sublime em vil mercadoria. E isso degrada enormemente a pessoa humana, mesmo
que se faça com o seu consentimento.
Ninguém é “feliz sendo
prostituta”, assim como ninguém é feliz vendendo-se a si próprio ou comprando
satisfações egoístas. A frase é ardilosa e mentirosa. Nela se encerra um baixo
e sorrateiro golpe na dignidade humana, ainda que seja dourada com adornos
atraentes e disfarçada com sorrisos exteriores e fingidos.
E a malícia mais repugnante
dessas campanhas está em que bloqueia, ou ao menos dificulta enormemente, as
possibilidades das pessoas deixarem essa “profissão” degradante, onde somente
encontrarão frustrações. Penso que quem verdadeiramente busca o bem desses
seres humanos, que se perdem na prostituição, deveria levar-lhes um acolhimento
sincero e delicado, que os movesse a mudar de vida, a encontrar o verdadeiro
amor e nele situar a sexualidade tal como foi concebida. É que somente assim
poderão inebriar-se na fonte real e perene da felicidade.
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