Recentemente muito se tem
defendido a necessidade de impor limites na educação dos filhos. E a razão
principal disso são péssimos resultados observados, decorrentes de uma educação
excessivamente permissivista: jovens desorientados, drogas, gravidez precoce,
perda do sentido da vida etc.
É evidente que o
permissivismo causou grandes males às atuais gerações. Mas será que o simples
restabelecimento dos limites na educação serão suficientes para corrigir os
erros do passado?
Os limites são
imprescindíveis, sobretudo porque eles permitem que nossos filhos e alunos
saibam compaginar liberdade com responsabilidade. Soube da história de um
garoto que, durante uma viagem com os colegas de escola para um acampamento, queixava-se
com o professor de que seus pais não lhe davam liberdade, que dependia da
autorização deles para quase tudo. Esse bom professor deu ao aluno uma
brilhante lição, que merece ser contada:
“Seus pais não permitem que
você faça tudo o que quer porque o amam. Veja esse pequeno riacho. Em sua
nascente, uma margem é bem próxima da outra. É o que ocorre com uma criança
pequena, que para tudo depende dos pais. O riacho, conforme vai avançando, as
suas margens vão ficando cada vez mais distantes, até que deságue no mar, onde
não há mais margens. Assim deveriam os pais fazer com os filhos. A autoridade
dos pais é a margem dos rios que permite que cheguem ao destino. Quanto maior o
rio, mais distantes as margens, quanto maior e mais responsável o filho, maior
pode ser a sua autonomia. E que bom que haja a margem! Imagine o que seria do
rio sem ela? Veja aquela parte do rio em que a margem é menos resistente, parte
da água caiu para fora e apodrece à beira do rio, não chegará no mar. Assim
acontece com os filhos que possuem pais fracos, que não desempenham a obrigação
de exercer a autoridade: deixam seus filhos perdidos nas ribanceiras do mundo,
não chegam ao mar”.
Penso que é interessante
essa lição desse bom mestre. Porém, como toda analogia, é imperfeita. Ainda que
a imagem das margens do rio chamem a atenção dos educadores para o dever de impor
limites aos filhos, na prática, nem sempre é possível – e nem desejável – que
os pais e professores assumam uma atitude excessivamente vigilante.
E mesmo que fosse possível
essa vigilância, tampouco seria adequada para formar homens e mulheres de
verdade. É que ninguém poderá ser verdadeiramente bom enquanto não se decidir a
sê-lo livremente.
Nesse sentido, mais que
cercados ou vigiados, nossos filhos e alunos precisam ser inspirados. Estão
sedentos de exemplos vivos de que a vida vale a pena encarnados numa existência
concreta. Assim, para formarmos mulheres e homens de verdade, felizes e com um
claro e profundo sentido da vida, é necessário que sejam muito bem formados os
educadores: pais e professores.
É muito difícil moldar um
ferro frio. Ao contrário, se é aquecido, um bom ferreiro pode ir trabalhando,
dando-lhe os contornos desejados. Novamente a analogia é imperfeita, afinal a
educação não é moldar ninguém, e tampouco tem o educador o direito de impor naquele
que educa um modo peculiar de ser, até porque o melhor que cada ser humano pode
vir a ser é ele mesmo. No entanto, as virtudes que formam uma personalidade
madura e feliz podem ser forjadas. E, para isso, quando maior for a
“temperatura” do educador, mais apto estará para inspirar e arrastar.
Não queremos dizer que o bom
educador precisa ser necessariamente uma personalidade carismática. A história
está cheia de líderes carismáticos que arrastaram milhares de pessoas para um
verdadeiro abismo. O que nossos jovens precisam é de educadores que encontraram
um autêntico e profundo sentido para as suas vidas. E que, precisamente por
tê-lo encontrado, são capazes de ensinar, muito mais que com palavras, com os
exemplos que emanam de uma vida fecunda.
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