Muitos dos pais talvez já tenham
se descabelado com os filhos, deslizando com uma habilidade impressionante os
dedos sobre o teclado de um smartphone,
enquanto se tenta manter uma refeição em família... Ou mesmo muitos de nós nos
surpreendemos desviando a atenção para o celular em ocasião em que deveríamos
estar mais atentos às nossas companhias, como num jantar de casal ou de amigos
num restaurante. E a imersão que muitas pessoas fazem nesses equipamentos
eletrônicos não se restringe às refeições. Muitas vezes emperram o trânsito
quando já está aberto o semáforo, participam “de corpo presente” de uma reunião
de trabalho etc.
Mas talvez um ambiente mais
crítico em que a indevida utilização pode atrapalhar o estudo e a própria
convivência saudável é na escola. Manter a concentração dos alunos sempre foi
um desafio enorme para o professor. Contudo, tem agora a “concorrência desleal”
dos celulares e smartphones. E quase
sempre é bem mais gostoso e aprazível manter conversas virtuais com amigos e
navegar na INTERNET do que prestar atenção no mestre, por mais habilidoso que
ele ou ela seja na arte de ensinar.
Muitas instituições adotam a
prática de proibir o uso durante as aulas, ou mesmo o ingresso com esses
aparelhos nas escolas. Essas medidas são úteis e muitas vezes necessárias para
manter a atenção dos alunos, ou ao menos para evitar que se distraiam. No
entanto, não podemos nos esquecer que um grande desafio do educador é formar
para o bom uso da liberdade.
Quando as escolas proíbem o uso
dos celulares, total ou parcialmente, também fomentam o bom uso da liberdade.
Com efeito, respeitar as regras justas e legítimas não nos faz menos livres. Ao
contrário, a escolha do que é bom e correto em cada situação é o que
verdadeiramente nos liberta. Ao contrário, a infração e descumprimento das
regras, ainda que tenham uma aparência de liberdade, no fundo nos faz escravos
de nossos caprichos e egoísmo, que a pior mais cruel escravidão.
No entanto, é preciso formar os
nossos filhos e alunos para exercer bem a liberdade também naquelas ocasiões em
que não se está diante de uma norma específica de conduta, ou mesmo quando não
há o menor risco de punição.
Nessa linha, os pais e
professores precisam ter a sabedoria para lhes ensinar que, apesar de um mundo
virtual e fascinante que o avanço da tecnologia lhes proporciona, há também um
mundo real e concreto em que os relacionamentos também necessitam ser formados
e cultivados.
Além disso, o mundo virtual tem
um chamativo muito especial para fomentar atitudes egoístas. Embora possamos
fazer um excelente uso dele, como por exemplo, para postar boas matérias em sites, redes sociais, ou mesmo enviar
mensagens de estímulo e alento a nossos familiares, amigos e conhecidos, é
também muito frequente adentrarmos no mundo virtual quando queremos, para fazer
o que desejamos, buscando muitas vezes uma satisfação pessoal ou o simples
entretenimento, esquecendo-nos por completo dos outros.
Também não convém esquecer o
quanto os equipamentos eletrônicos nos desviam a atenção. Enquanto escrevia
esse artigo fiz ao menos três interrupções para responder a sms da minha esposa, filha e amigo. E
quantas vezes não farão o mesmo nossos filhos e alunos durante uma tarde de
estudos ou em meio a uma aula?
No mundo cada vez mais virtual em
que vivemos, talvez um bom conselho que podemos dar aos nossos filhos e alunos
seja o seguinte: “faça o que deve fazer em cada momento e esteja real e
concretamente no que se faz”. Isso talvez exija a valentia de desligar ou
manter no silencioso os celulares durante as atividades que exijam maior
concentração, mesmo que o uso não seja proibido. Porém, além de lhes propormos
isso, devemos dar bons exemplos. Afinal, não são poucos os jovens da segunda ou
terceira idade que também perdem longas horas do dia bem distantes deste mundo
real...
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