Se alguém nos perguntasse se é
possível amar esse mundo em que vivemos, qual seria a resposta? A pergunta é um
tanto vaga, de modo que poderíamos respondê-la de modos diferentes. Além disso,
é comum que cada indivíduo se fixe num determinado aspecto: a natureza, o local
em que se vive, as relações de amizade, a política e os governantes a que está
sujeito etc. Além disso, influirá a tendência mais otimista ou pessimista de
cada um.
Apesar dessas variantes, se nos
voltarmos para a nossa realidade social, é provável que se levantem muitos
obstáculos que impedem ou dificultam amar de verdade o mundo em que vivemos:
violência, corrupção, drogas, desagregação da família e dos valores familiares,
jovens desnorteados e desesperançados etc.
Nesse cenário, e diante daquela
pergunta provocativa, talvez alguns já digam de plano: “Não. Não é possível
amar esse mundo, a menos que as pessoas e as relações humanas mudem
significativamente”. Outros, talvez no afã de construir uma resposta mais assertiva,
se lancem a pensar que aqueles problemas não existem, ou que se exagera. Outros
ainda, talvez se ponham a pensar que não tem nada que ver com aqueles
problemas, de modo que lhes cabe levar a sua vida no seu canto e do seu jeito.
Contudo, penso que deveríamos
aprofundar mais na questão. Afinal, vivemos nesse mundo e, queiramos ou não,
dele fazemos parte e nele estabelecemos as nossas relações familiares,
profissionais e sociais. Enfim, é aqui que construiremos (ou não) a nossa
felicidade. E questionamento dessa envergadura exige reflexão mais profunda.
Assim, antes de respondermos se é possível amar esse mundo em que vivemos,
temos de nos questionar sobre a razão da nossa existência. Em suma: o que
estamos fazendo aqui?
É muito motivador pensar que a nossa
vida é muito importante, mesmo que considerada no contexto da humanidade
inteira em toda a sua história. Tendemos a pensar que há algumas pessoas
notáveis (chefes de grandes e poderosas nações, astros da música, do cinema ou
do esporte, líderes religiosos etc.), ao passo que todos os demais, meros
mortais, estariam relegados a um segundo plano, a levar uma vida
insignificante. No entanto, deveríamos repelir com energia essa ideia falsa.
Cada um dos seis bilhões de seres humanos que povoam o planeta é dotado de uma
imensa dignidade. Precisamente por isso, cada um é insubstituível e nasce com
uma missão a desempenhar.
Sendo assim, a família, os
amigos, a sociedade em que está inserido e toda a humanidade fica “desfalcada”
quando alguém não descobre sua missão ou se recusa segui-la.
Essa maneira de encarar a
existência não é um simples recurso de motivação. Não é um tópico extraído de
um livro de autoajuda. É a realidade mais palpável e concreta de cada ser
humano. E assim colocadas as coisas, então nos é factível amar o mundo. Com
efeito, apesar dos muitos problemas, temos uma missão de amor e paz a
desempenhar pela família, no trabalho, com os amigos e com todas as pessoas com
quem convivemos.
Porém, essa maneira de pensar na
nossa existência não pode ser uma ideia vaga e abstrata, uma espécie de
narcótico para momentos de depressão. Ao contrário, há de se traduzir em ações
bem concretas. Trata-se, por exemplo, de nos esforçarmos cada dia por fazer um
trabalho bem feito, com perfeição, cuidando dos detalhes, ainda que ninguém o
aprecie ou que não recebamos um justo reconhecimento. Aliás, o reconhecimento
que buscamos é com a nossa consciência, por estarmos agindo coerentes com a
nossa missão.
Talvez já tenhamos observado uma
brincadeira de criança e que várias se mantêm imóveis, até que uma delas vai
correndo tocando nas outras. Essas, ao serem tocadas, uma a uma, começam a
correr, até que todas se põem em movimento, alegres e sorridentes. Algo de
semelhante ocorre conosco. Ainda que a missão de cada um seja única, todas têm
em comum esse atributo de comunicar vida e alegria, que contagiam. E assim se
ama o mundo amando as pessoas que o povoam, num afã sempre renovado de ser
feliz, ao mesmo tempo em que se ocupa de fazer os outros felizes.
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